Monday, May 4, 2009

Onze meses na estrada! Presente: visto iraniano – Trabzon/Turquia

Antes de ir à Turquia passei mais alguns dias em Mar Mussa, o monastério cristão ao norte de Damasco.

Reencontrei Dave, o britânico que me aconselhou a tomar cuidado no Iraque (como já disse, este tipo de coisa não se ouve muito de mochileiros) e conheci Igor, um russo que queria entrar no Irã pelo Curdistão iraquiano.

Ele me disse que havia conseguido o visto em Trabzon em apenas uma hora, o que apenas confirmou o que eu já havia ouvido antes (não ter ido direto para lá foi um dos erros estúpidos que cometi).

Por duas noites dormi em uma caverna nas montanhas a quinze minutos do monastério. O russo, um espanhol, um esloveno e eu conversamos a sua entrada olhando pequenos pontos luminosos – as fogueiras dos beduínos – no deserto.

Estava explicando a rota que Igor deveria percorrer até o Iraque e lhe recomendei que não tentasse viajar de carona lá. Depois começamos a falar sobre o Afeganistão. Não tinha ideia de que ele havia cruzado o país “a dedo”.

Igor nos contou da vez em que, ao revelar que era russo ao motorista, este lhe disse: “meu irmão foi morto pelos soviéticos.” Mas a pérola ainda estava por vir.

Falei de um vídeo em que vi um garoto de 12 anos decepando a cabeça de um homem envolto por um monte de talibãs que gritavam, “Allah Awakbar! Allah Awakbar!”. Ele replicou, “O talibã é bom”, referindo-se a vez em que lhe deixaram acampar numa área por eles controlada a alguns quilometros de Cabul.

Talvez este seja o “talibã moderado” com que Obama e Hillary querem negociar. Pena que o russo não pegou o telefone deles pra avisar a CIA de sua localização. Ao invés de bombas, Obama mandaria um vídeo que seria entregue por Richard Holbrooke, o mesmo que perguntou a um terrorista ex-detento de Guantánamo: "Give us advice on reconciliation with the Taliban".

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Em Trabzon, procurei um lugar para me acomodar por uma noite. Como a rodoviária fica próxima ao porto, tentei encontrar um hotel barato nas redondezas. O que se mostrou uma péssima ideia.

Trabzon fica às margens do Mar Negro e é porta de entrada para muitos russos que imigram para a Turquia. No primeiro “oteli” em que entrei, dei de cara com uma loirona. Um leão de chácara veio me atender falando em russo e lhe perguntei, só por curiosidade, quanto custava um quarto. O cara me pediu 40 dólares. A mesma coisa aconteceu mais umas cinco vezes.

No dia seguinte, 22 de abril, precisamente quando completava onze meses de viagem, fui até o consulado iraniano. Cheguei às 8h15 e teria de esperar até às 9h. Sentei-me na calçada ouvindo as canções em farsi que Farnoosh havia me passado.

Alguns minutos antes das 9h um senhor acenou para mim da janela do prédio dizendo que eu subisse. O mesmo senhor sorridente me recebeu à porta e disse, em português claro, ao saber que eu era do Brasil, “Você é brasileiro?”

Sr. Mourat havia sido cônsul em Brasília por quatro anos antes de ser transferido para a Turquia. Ele solicitou meu passaporte e, vinte minutos depois, trouxe-me o número da conta bancária para o qual deveria fazer o pagamento de 50 euros. Quando ouvi esta notícia quase chorei. A informação que eu havia recebido de um japonês no meu segundo dia de Oriente Médio, no hotel Sultan-Bed Bugs, em Cairo, era verdadeira: visto iraniano em Trabzon no mesmo dia!

Antes de pegar a Estrada em direção a Diyarbakir, comemorei minha conquista com um combo de dois dólares do Mc Donalds. A busca de dois meses havia terminado.

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