Saturday, November 29, 2008

"Chino" nunca mais

Finalmente terminei os posts da America do Sul, e posso continuar a viagem mais tranquilamente agora.

Sei que alguns dirao "mas voce deveria ter postado essas coisas la da Venezuela" e foi o que tentei fazer. Mas nao consegui me desgrudar de meus pais para adentrar nesta dificil tarefa.

Os relatos da Colombia e da Venezuela acabaram se tratando mais da descricacao do processo angustiante pelo qual passei de decidir se pegaria o aviao ou nao - para Cairo -, do que propriamente de comentarios em relacao a estes paises. A verdade e que, nestes dias, estava com a cabeca so no Pacifico... Ah, como desejava cruza-lo!

Ao menos sair da Am. do Sul significou o adeus a sensacao de gostosa passando em canteiro de obras. Apesar da amabilidade dos bolivianos, peruanos, equatorianos, colombianos e venezuelanos, nao suportava mais as exclamacoes, sussurros e berros de "chino, chino, chino", com direito a fiu-fiu de cocalera na Bolivia e a abordagem de senhora - ja passada dos cinquenta - para dizer: "que chino guapo" (nao, meus caros! Estas coisas nao massagearam meu ego).

Minha barriga tambem esta melhor. Como voces ja devem saber, desde que sai do Amazonas, meu aparelho digestivo funcionava como uma loteria. Fazia meu jogo quando ingeria agua e comida, sendo que, quanto mais caro pagava pelos lances, mais chances, evidentemente, tinha de ser premiado.Nao vou dar detalhes sobre a apuracao, apenas direi que estava cada vez mais dificil de ter bilhete premiado.

Bom, espero que os numeros nao estejam aparecendo em arabe ai, como estao para mim aqui. Qualquer coisa, procurem no google (nao tenho mais paciencia para ficar na frente de um monitor que parece ter pegado fogo, de tao preto que esta, alem de o teclado estar cheio de poeira, do odor de cigarro estar pela sala inteira - apesar do "no smoking" - e de os pernilongos me fazerem de jantar).

Shukram

O bicho-papao de Correa


Mais um item para ser encaixado no "10 tips to stay on budget" do Lonely Planet...

"Tire foto das fotos", por Jose

(Como quase sempre comeco um post a cada novo pais, acabo sempre falando sobre fronteiras... Espero que se acostumem com minha falta de criatividade). Andei oito quilometros ate chegar no Departamento de Imigracao do Equador, peguei minha estampa e fui comer uma guatita (buchada). Eram 9h da manha.
De la,fui ate Guayaquil, maior cidade do Equador de onde saem avioes e veleiros para as Ilhas Galapagos. Tentei ganhar alguns dolares vendendo o que me restavam de stickers e pulseirinhas, mas somente andei a toa.

A cidade era muito movimentada e preferi ir a Alausi, localizada nos andes equatorianos. Assim, peguei o onibus da uma da manha e cheguei as 8h30 na pequena cidade de onde partem trens para La Nariz del Diablo, uma montanha que, como o proprio nome diz, se parece com um nariz de diabo - ao menos e o que os equatorianos dizem que veem.

A provinciana Alausi me encantou. A temperatura nao era excessivamente fria e as tradicoes e costumes estavam mais enraizados e eram perceptiveis no colorido das roupas e na elegancia dos chapeus.
A amabilidade das pessoas possibilitava o desenvolvimento dos negocios, e pude vender minhas tranqueiras. QUando nao as vendia, trocava por refeicoes. Foi assim que conheci Sr. Jose, Sergio e Marilyn. Compraram-me tanto que fiquei com credito para duas refeicoes.

Numa das manhas que estive na cidade, fui conferir a tal "La Nariz" bla bla bla... Como se trata de uma montanha, resolvi descer a pe e voltar de trem. Gracas as dicas de um senhor campones, peguei atalhos que encurtaram os onze quilometros de distancia ate a base da montanha. E, gracas a minha incosequente ansiedade, peguei outros caminhos que me renderam arranhoes e rasgos nas roupas. Quando ja estava quase chegando na base, achei que poderia cortar caminho descendo por um barranco de pedras. Sem duvida cheguei mais rapido do que se caminhasse pelos zigue-zagues da linha de trem, mas acabei descendo o morro de bunda e, para completar, passei por galhos secos cheios de espinhos.

No final, nao tive a visao daquelas enlevadas paisagens que recompensam o mais arduo esforco. Nem se voltasse aos meus seis anos de idade, quando era capaz de ver o rosto da XUXA numa nuvem do ceu, conseguiria abstrair daquela montanha um maldito nariz dos diabos... Enfim, se o destino era uma simples tacada mercadologica para atrair turistas, como sempre, o trajeto valeu a pena.

De Alausi fui para Quito. Mal cheguei na rodoviaria e ja liguei para Jose, o qual conheci no barco indo de Belem para Santarem. Ele acabara de regressar, estavamos na quinta e ele chegara no domingo, de sua viagem por seis meses pela America do Sul com uma japonesa e um canadense num Lada.

Peguei um trolebus para ir a casa de Jose e encantei-me com a qualidade de suas intalacoes, as quais me lembraram muito as dos trolebus de Hiroshima, Japao.

Desci na moderna estacao Villa Flora, para de la pegar um onibus ate a residencia de Jose, quando vi uma manifestacao de estudantes do segundo grau. Um bando de moleques ainda com o uniforme da escola enfretavam alguns policiais tacando paus e pedras. A policia nao conseguia deter os meninos, que se deslocavam em minha direcao. Uma pedra passou bem perto da cabeca de uma velha que atravessava a rua e alguns lojistas fecharam suas portas com receio de terem seus comercios depredados. Por sorte, um reforco militar chegou e conteve a marcha dos revoltados por meio de bombas de efeito moral.


Ao ver aquela cena a alguns metros de distancia de onde eu estava, recordei-me dos meus tempos de colegial. Logo no primeiro ano de Federal (CEFET-SP) os alunos foram convocados a aderirem altruisticamente a greve dos professores.

Recordo-me do auditorio lotado de colegiais reunidos para decidirem em assembleia a posicao dos alunos. Naquele tempo, e ainda deve ser assim hoje, capitalista ou socialista era uma alcunha tao importante quanto catolico ou judeu, corintiano ou palmeirense.

Dado que a CEFET era, e deve continuar sendo, um antro esquerdista, isso significava que deveriamos, nos alunos, abdicarmos de nosso bem-estar em favor dos desfavorecidos, os professores. Assim, com ampla margem de votos, o "sim, sou politicamente correto e apoio a greve dos professores" ganhou.

A primeira manifestacao anunciando o movimento grevista se deu na Avenida Paulista. Nao me recordo do porque de nao ter ido, e nao nego que pode ser sido por preguica, mas me lembro bem do meu espanto ao ligar a televisao quando em cheguei em casa da escola e ver as imagens ao vivo da baderna que a manifestacao havia se tornado.

No final, nao me recordo se os professores tiveram exito em suas reivindicacoes. O resultado, para mim, daqueles dias sem aulas foram: acrescimo de cinco minutos aos 45 que compoem uma aula, aulas ate o Natal e a partir da segunda semana do ano novo, dificuldades para digerir os conteudos que eram gorfados pelos professores.

No ano seguinte, o corpo docente tentou organizar uma outra greve. Mais experientes e egoistas, nao a acolhemos. Afinal, qual e o problema de um(a) garoto(a) de 15 anos querer ter aula?

Antes de terminar esta divagacao, so quero expressar o meu desgosto ao acessar a internet no dia seguinte e ler sobre a manifestacao da Policia Civil em frente ao Palacio dos Bandeirantes. Se estudante, mesmo com a desculpa da inexperimentada autocritica, fazendo baderna ja e um despauterio, imaginem um poder armado. Assim como "saudade de jabutica", greve armada de policia civil so pode ser falado em portugues brasileiro.

Ja na casa de Jose, fiquei muito feliz com a minha primeira recepcao numa casa equatoriana. Acho que posso dizer que Rafael Correa e uma excecao em termos de hospitalidade. Fui tratado super bem e de la escrevi os ultimos posts.

Alem da preocupacao da familia em me apresentar a cada refeicao um prato da culinaria do Equador diferente - comi fritada, humitas, quimbolita, papaco, hornado de cordero -, tive a satisfacao de participar de um encontro familiar.

Quando o pai de Jose, Sr. Guillermo, me disse que iriamos para um "encontro familiar" na noite de sabado, logo imaginei que se tratava de uma daquelas ocasioes em que se toma cha ao redor de uma mesinha com um monte de velhinhos cansados.

No caminho, descobri qeu se tratava de uma festa familiar em comemoracao a formatura de uma jovem. Sr. Guillermo havia brincado que precisaria comprar um terno, nao dei muita bola ate ver a elegancia com que a mae e a irma de Jose se vestiam. Comecei a me preocupar e me desesperei de vez quando fomos recebidos pelo anfitriao, namorado da formanda, de camisa para dentro da calca e sapato.

Tentava me confortar com o pensamento de que mesmo com minha blusa semi-rasgada, minha calca cheia de poeira da La Nariz del Diablo e minha batida bota de trekking, havia me esforcado para estar bem vestido para a ocasiao, dado que havia colocado minhas melhores roupas (as unicas que tenho, para quem nao sabe). Por fim, percebi que estava no nivel. Entre a formanda com um belo vestido, as senhoras maqueadas de esplendorosa elegancia e os senhores de sapato, eu estava no nivel das criancas.

Fomos os primeiros a chegar e ficamos conversando com o namorado da formanda numa ampla sala de visitas com teve de tela plana e equipamento de audio e video. O dono da casa chegou e deu, pensei eu, o ritmo da festa: colocou um cd do ABBA. Imaginei eu: "Entao vai ser desse jeito tao revival...", logo me desanimando.

Quando o repertorio constituido por Mamma mia,Dancing queen, terminou, colocaram um DVD de musica tradicional equatoriana da banda Kjarkas. Achei interessante, mas depois de meia-hora ouvindo comecei a ficar entediado. Foi bem nessa hora que botaram uma salsa brava e os casais, de todas as idades, comecaram a despontar no meio da sala. Havia sido inaugurado o baile.

Dancamos merengue e salsa ate o jantar, servido a meia-noite. Depois da refeicao, todos se reuniram para cantar cancoes como Comandante Che, Simo Bolivar Simon, Companera, Abacate... Foi precioso ver todos cantando emocionadamente, jovens de catorze, quinze anos, a senhoras e senhores que ja passaram dos sessenta.

Por fim, a noite terminou com dancas folcloricas - san juanitos. Disseram-me que e o mesmo tipo de musica que toca nas comemoracoes do mes de Dezembro relacionadas a fundacao de QUito, so faltava o bebado largado no chao para ficar igualzinho as festas nas ruas.

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Quito pode ser divido em duas partes: a antiga, com seus predios historicos, museus e instalacoes governamentais; e a nova, com construcoes recentes, universidades e bares que concentram a vida noturna da cidade.

Estava caminhando na Praca Maior da Quito antiga e percebi um pequeno grupo de pessoas discutindo politica. Reparei num cartaz que trazia algumas definicoes sociologicas bem profundas ("Burguesia: pessoa com condicao financeira elevada que nao tem solidariedade com os mais humildes", alem da frase, "Agora nao se sabe o que e mais imoral: roubar um banco ou fundar um") e resolvi ouvir um pouco a conversa.

Um senhor falava a respeito das mudancas que Rafael Correa queria fazer em relacao aos lucros da industria petroleira no pais e a correspondente inversao social destes ganhos. Peguei a coisa no fim, mas o mais interessante estava por vir...

Uma mulher tomou a palavra e comecou, "Sou uma comunicadora social. Para quem nao sabe, e como se fosse uma jornalista, mas que nao reproduz aquilo que eles querem [eles quem?]..." E continua, "Nao devemos fazer aquilo que eles desejam [de novo]! Por exemplo, que televisao voce tem [pergunta a um senhor]? Por que nao nos contentamos em ter uma televisao simples, ao inves de desejar uma televisao de tela plana? E isso que essas grandes corporacoes querem: que lhes entreguemos nosso dinheiro para nos dominarem ainda mais...". Ela continuo, mas eu fui embora.

Sem duvida toda essa paranoia conspiratoria ecoou e encontrou respaldo no governo de Correa. Pude ver alguns materiais da campanha publicitaria em prol da aprovacaoda nova constituicao e, ao terminar de os ler, conclui que deveria botar a culpa das infelicidades equatorianas no bicho-papao ou no lobo-mau.


Toda a argumentacao se baseia na luta contra os inimigos do povo: os politicos corruptos, neoliberais, burgueses, opositores do governo (os neoliberais brasileiros que emprestam 243 mi ao pais tambem poderiam ser incluidos)...

O presidente e o maior paladino deste projeto "revolucionario", sendo guardiao da nova constituicao. Quem nao esta com ele esta contra ele, isto e, contra o pais, sendo, desta forma, um ser abjeto e repugnante, preocupado apenas com seus proprios interesses.
Foi com esta logica que quase 64% dos eleitores deram a Rafael o poder de fechar o Congresso (contra os politicos corruptos ou inimigos da oposicao) e de interferir drasticamente na economia (contra os neoliberais e burgueses).



Mas chega de politica e conto de fadas. Depois de Quito, passei a me deslocar rumo a Colombia. A mae de Jose preparou uma fritada (carne de porco, couro de porco, bananas e batatas fritas) especialmente para mim e preferi, obviamente, comecar a viagem apos as 15h.

Satisfazendo meu desejo consumista

Colombia: o risco 'e que queira pegar um veleiro


O DAGV ja apresentou tridimensionalmente, espacialmente, por que nao rechonchudamente?

Cheguei na fronteira Tulcan(CO)-Ipiales(VE) as 21h30 - o horario mais tarde em que cruzei para um outro pais -, e se tratava da mais tranquila pela qual ja havia passado. As 21h45 cheguei na rodoviaria de Ipiales acreditando que conseguiria pegar o ultimo onibus as 22h. Por azar, os segurancas me avisaram que justo naquela noite a viagem fora cancelada por falta de passageiros. Como a rodoviaria nao era ruim - tem tres segurancas e bons bancos, alem de ser bem iluminada -, decidi quebrar meu tabu de mais de 40 dias e passar a noite la.

No dia seguinte, de microbus, fui ate Cali (a capital da salsa) e peguei outro onibus para chegar em Bogota - no total, foram 26 horas de viagem. Caminhei ate o centro da cidade e passei a procurar um quartinho barato. A estrategia de sair perguntanto para vendedores de rua funcionou e encontrei um quarto com hotel bem proximo ao Palacio Narino (Palacio de Governo).
Sem banho privado a hospedagem custava 5000 pesos colombianos (como 2 dolares e pouquinho); com, 8000 (aprox. 3.5 dolares). Como o status de minha barriga ainda estava indefinido, optei por ter um banheiro a minha disposicao 24 horas por toda a noite.

Depois que fui sacaneado numa lanchonete em Viedma (ARG) em que pedi um cha para poder assistir a um jogo de futebol da selecao brasileira contra a argentina (tive de pagar dois chas porque pedi mais agua quente e acucar e, apesar de o jogo ter terminado empatado, me senti humilhado pelos nossos rivais vizinhos), sempre tomo o cuidado de saber todos os detalhes antes de celebrar um negocio.

Foi isso que fiz antes de me hospedar no hotel. A funcionaria me explicou que eu poderia ficar la por doze horas pagando os referidos 8000. Se eu passasse o dia inteiro sem sair do hotel, deveria pagar o dobro. Ela tambem me disse que as minhas coisas ficariam intactas no quarto no periodo que estivesse ausente, dado que a questionei a respeito da possibilidade de perder a vaga no hotel durante o periodo que estivesse fora.

Na sexta a noite, passeei pela carrera setima, uma das principais da cidade, que estava fechada para atracoes artisticas. No comeco, quando vi dois palcos montados, achei que estava numa versao diminuida da Virada Cultural, so que sem tanta cerveja e nenhuma maconha. Logo depois, ao caminhar mais um pouco, percebi que aquilo estava mais para um show de talentos, ou espaco aberto para fazer o que desse na telha. Assim, encontrei gente ganhando trocados com violao, bola, e ate boneca de silicone em tamanho real. Tambem havia espaco para protestos: um grupo de universitarios passavam videos e distribuiam folhetos a respeito dos indios e cortadores de cana de Cauca, outros se manifestavam contra a violencia gerada pelo narcotrafico, e havia espaco ate para defensores dos animais.


Protestos na carrera setima


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Sei que ja falei em tara etnica em inumeras ocasioes, mas prometo que sera uma das ultimas vezes. Na Colombia, como sempre, ela estava agucada, mas desta vez nao se tratava da tara etnica das mulheres, mas sim da minha. Vi uma quantidade razoavel de colombianas lindas e ate pensei estar na industria das miss-universos - confundindo Venezuela com Colombia.

Um pouco da sensualidade colombiana, por Fernando Botero

Alem das mulheres, o pais e muito agradavel para se viajar e esta muito mais seguro do que no passado (gracas a forte politica de combate ao narcotrafico e ao terrorismo). Bogota, depois de Brasilia e Buenos Aires, e a capital nacional de que mais gostei. Nao e a toa que o governo usa o seguinte slogan turistico: "Colombia: el riesgo es que te quieras quedar!"

A unica coisa chateante era ser abordado por militares a todo o momento. Nao podia sequer me sentar sozinho numa praca que alguem vinha solicitar meu passaporte. Disseram-me que a razao disto acontecer tantas vezes e que ha muitos chineses ilegais que tentam chegar ate os Estados Unidos subindo pela America Central.
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No sabado me encontrei com Jenny, a coreana que conheci no Congresso Evangelico Indigena. Ela esta morando em Bogota e estudando espanhol na Universidade Nacional (alguns colombianos a chamam de "industria de bombas", por conta das "manifestacoes" dos seus estudantes armados com coqueteis molotov).

A tarde fomos a uma festa na Industria Molotov. Um enorme palco havia sido montado e milhares de jovens curtiam um reggae com letras "progressistas" que falavam de revolucao e legalizacao da maconha.

Universidade Nacional da Colombia

A noite, apos uma ardua conversa em relacao ao problema moral de uma mulher evangelica dividir o mesmo quarto com um homem, Jenny finalmente aceitou meu convite (sem nenhuma intencao secundaria) de dormir comigo no hotel para que pudessemos sair bem cedo no dia seguinte e subir o cerro Montserrat.

Chegamos no hotel por volta das 22h e o recepcionista me informou que nao havia mais quarto livre. Nao entendi direito o que ele quis dizer, dado que ja estava hospedado numa habitacao e todas as minhas coisas estavam la.
Finalmente, compreendi que, como eu nao havia chegado ate as 20h, ele havia retirado todas as minhas coisas do quarto e o alugado a outra pessoa. Fui retirar meus pertences do quartinho onde ele havia os guardado e comecei a organiza-los no chao da recepcao, vociferando contra a politica do hotel.
No fundo, estava corado de vergonha e nao conseguia parar de me desculpar a Jenny. Nao tinha ideia do que fazer, pois com uma moca nao poderia apelar para o tao aplicado plano B no que se refere a hospedagem, isto e, nao poderia simplesmente ir a rodoviaria.

O engracado foi que Jenny, conhecendo um pouco de minhas estorias de viagem, sugeriu exatamente isto: "Vamos a rodoviaria!". Respondi que nao poderia permitir que ela se arriscasse desta maneira, e a resposta que ela me deu poderia me fazer pedi-la em casamento se nao fosse pelo mero detalhe de nao ama-la: "Por que nao? Eu nao sou uma princesa!".

Passamos por um albergue da juventude, mas ele estava cheio. As 23h, achei mais seguro irmos a rodoviaria do que andarmos a procura de hotel. No caminho, tentei nao me preocupar e entrar no clima de crianca no safari da moca, que estava crispada de emocao pela aventura.
A rodoviaria de Bogota possui uma boa estrutura e seguranca, o que retirou qualquer preocupacao que ainda restava em mim. Mal sabia eu que o perigo nao era exterior.

Conversavamos sobre casamento e homossexualidade ate que, nao sei por qual motivo, disse que nao era evangelico. Jenny, que partira de um silogismo (estamos num congresso em que todos sao evangelicos. Ele esta no congresso, logo ele e evangelico) meses atras para concluir erroneamente o contrario, recebeu a verdade de maneira lancinante: ficou branca, seus olhos marejaram, sua voz se encheu de tristeza.

Nao sei como ela nao havia percebido atraves de minhas opinioes que eu nao era cristao. Mas o fato e que havia todo um encanto sob a egide desta equivocada deducao. E isto a inebriava como um doce licor.

Tentei melhorar as coisas falando sobre a Seicho-No-Ie, minha religiao, o sincretismo religioso e a presenca de Deus em todas as coisas, mas eu so aumentava sua angustia. Desisti e resolvi dormir um pouco. E, na verdade, o pesadelo so estava comecando.
As 3h da matina Jenny me chamou e disse que ia ao banheiro. Em seguida, ela simplesmente apagou e caiu em meus bracos. Suas maos se contrairam e eu achei que se tratava de um ataque epileptico. Comecei a gritar por ajuda ate que um seguranca chamou a enfermaria pelo radio.

Nao sei quantos segundos se passaram ate que ela despertasse, mas acabamos passando as proximas tres horas na enfermaria da rodoviaria. O enfermeiro, curiosamente homossexual, me disse que se tratava de uma queda de pressao... Dali em diante, se tornou ponto pacifico nao falar mais em religiao.

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De Bogota peguei um onibus ate Medellin. Cheguei pela manha e procurei, como sempre, um hotelzinho barato. Depois de andar muito e entrar numa pandega, quero dizer, num hotel com um monte de homens bebados e prostitutas as 9 da manha de uma terca, achei que valeria a pena pagar um pouco mais caro para ficar num albergue do Lonely Planet com cafe-da-manha e internet (tinha de planejar a viagem com meus pais pela Venezuela e queria acompanhar os ultimos dias da campanha para presidente dos EU).

A atendente do albuergue disse que terca era um bom dia para curtir salsa no El Eslabon Prendido. Como nao ia para uma "balada" desde os rodeios de Mirandopolis, cidade onde fica Yuba, decidi que merecia este luxo. Procurei companhia, mas ninguem se prontificou a ir, exceto por um esloveno que se interessou quando eu ja estava na porta da recepcao.

Bogota tem sua Vila Olimpia (Zona Rosada) e sua Vila Madalena (centro). Dado que uma estudante de antropologia me indicou o lugar, fui naturalmente parar neste ultimo recanto da cidade.

A sensacao que tive foi a de estar no O do Borogodo as quartas-feiras: som ao vivo de otima qualidade, ambiente super simples e casa consideravelmente cheia. Faltou somente a companhia dos queridos amigos e os lirios do campo que parecem desabrochar quando sambam com aquelas belas saias compridas e coloridas...

Para melhorar, Billy, um senhor com seus sessenta e poucos anos e cantor de blues, veio me fazer companhia. Nao quero dar uma de Berlusconi comentando sobre o bronzeado do futuro presidente dos EU, mas e incrivel como o sorriso de um senhor negro inserido em toda a elegancia de suas roupas e o molejo de seus gestos lhe conferem o carater de anfitriao. Este seu carisma lembrou Don Padeiro, meu mestre do samba.

Billy se prontificou a me ensinar a dancar salsa - pois e, apesar do curso basico na Cia Terra, vi que so sou bom mesmo em dancar musica eletronica - e me dizia: "Tem que dancar como um negro! Como um negro!" E se regozijava: "Isso, isso! E um negro!".

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Antes de partir para Cartagena fui conferir o famoso Metrocable, sistema de telefericos instalado em zonas montanhosas e pobres da cidade. Paguei 0.75 centavos de dolar e iniciei meu passeio pelo transporte publico de Medellin que duraria tres horas e meia por conta de minha admiracao.
Ha duas linhas de metrocable: a J, terminada em marco; e a K, em funcionamento ja ha alguns anos. Fui ver a linha J primeiro, e a ordem das observacoes foi muito importante para a progressao geometrica de meus sentimentos.

A linha J tem 119 cabines e uma extensao de 2.7 km. Em cada cabine podem viajar oito pessoas sentadas e duas de pe. Sempre ha um glamour em se chegar pelos ares, mas subir um morro que esta mais para Rocinha do que para Pao de Acucar desta maneira me pareceu mais utopico do que glamouroso.
Na subida vi muitos conglomerados de barracos feitos de tijolos, outros de madeira, muito mato, barranco, entulho e sujeira. Ainda assim, era possivel perceber a incipiente mudanca. Alem do setor publico, havia construcoes em andamento de muitos investidores privados atraidos pelo feito governamental e, inevitavelmente, aquelas pessoas estavam fadadas a melhora de suas condicoes de vida.

Na descida, conheci Franci, que estava com sua filha de onze meses e sua irma de dez anos. Ela estava indo ao centro da cidade comprar coisas para a festinha de um ano de Samanta. Disse-me que antes, de onibus, ela demorava cerca de 45 minutos. Agora, menos de 30, e tendo a comodidade de poder levar sua filha no carrinho.



Franci, Salome e Samanta no Metrocable

Fui para a linha K (85 cabines atendendo cerca de 3000 pessoas por hora) extasiado e, apesar do costume de encarar tudo no superlativo, posso dizer sem hesitacao que o que vi foi uma das coisas mais alegres de minha vida. Ao contrario da cultura brasileira de ode ao pobrismo que promove tours em favelas, so para dar um exemplo, eu pude ver algo muito alem de humildes casa sem alvernaria com telhas seguradas por pedras. EU vi escadarias, criancas brincado em ruas asfaltadas, escolas, centros esportivos, uma biblioteca constituida por tres enormes predios, uma passarela em construcao para ligar dois morros, fila de banco... Demorei para assimilar tudo aquilo e quis subir e descer o morro mais uma vez.


Construcao de passarela...


Biblioteca...

Nunca fiquei tao feliz em ver fila de banco...

Ha uma receita caseira para revigorar a auto-estima que recomenda termos um menu de momentos felizes para serem puxados da memoria nas horas tristes. Em politica, nao e facil encontrar opcoes. Assim, incluo-me nos numeros de pessoas beneficiadas pelo Metrocable: ele tambem passou a me ajudar a viver melhor.

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A proxima cidade colombiana que visitei foi Cartagena, no litoral norte. Fiquei num albergue da Lonely Planet de novo, pelos mesmos motivos ja citados (internet e guias de viagem da Venezuela - alias, se alguem precisar, pode ir pegar em casa).

Ainda nao havia desistido da ideia de atravessar o Pacifico num veleiro e fui ate o Clube Nautico. Deixei alguns dados meus num mural e so aumentei meu desejo vendo aquele monte de barcos.
Voltei pensando em cancelar o voo para Cairo e ir ate o Canal do Panama, onde sem duvida seria mais facil a empreitada. Entrei no findacrew.com, o que ja havia se tornado tao habitual quanto entrar no orkut ou no gmail, e nao havia nenhuma confirmacao dos donos de barco para quem havia mandado mensagens.


Sonhando em cruzar o Pacifico

Acho que a ida ao Clube Nautico me entusiamou demais e o seguinte questionamento perpassou em minha mente: "que tipo de escolha e esta em que se precisa esperar a decisao de alguem para se dar o proximo passo?". Decidi perder uns 300 dolares por conta do cancelamento e ir ate o Canal (evidemente que se voces sabem que estou no Egito, muita coisa aconteceu. Mas calma, chegaremos la...).

Dai para frente, tudo que aconteceu foi surreal. Era noite de 31 de outubro, dia das bruxas, e uma funcionaria agitou os gringos para rumbiar (sair de balada). Fomos mais de quinze.
Dancando na minuscula pista do barzinho, conheci um marinheiro de um navio cargueiro. Ele me disse que iria para o Japao no inicio de janeiro e eu poderia ir com ele. E claro que eu ja sabia que estoria de marinheiro e cinquenta vezes mais fantasiosa do que de pescador, e nao acreditei que as coisas fossem tao simples assim.

O mais inacreditavel foi que ele me apresentou um australiano que estava voltando com seu catamara para a Australia sozinho. Conversamos longamente e, apesar de estar totalmente sobrio (a dor de garganta e o preco da cerveja nao me permitiram), toda aquela coisa romantica de viajar num veleiro por tres meses me embriagou por sete dias a ponto de nao considerar o mais relevante: Michael, o australiano, estava bebado.

Fui terminar a balada na praia com a alvorada e alguns novos amigos colombianos. Dentro de dois meses, pensava eu, estaria sob o ritmo das ondas, sendo guiado pelo vento...
O que se seguiu nos dias seguintes foi bem real (exceto pelo clima de "change" instalado pela vitoria de Obama). Peguei uma baita gripe e fiquei por quatro dias repousando num albergue de Taganga, praia de Santa Marta, ao norte de Cartagena.
Vi que seria mais dificil solicitar o visto australiano do que imaginava e que, talvez, nao pudesse receber de volta parte do dinheiro da passagem. Neste meio tempo, troquei e-mails com Michael e percebi que ele mudava de opiniao, quer dizer, formava opiniao, dado que bebado normalmente nao as tem. Apesar disso tudo ter me desanimado, ainda nao havia apagado a ideia de minha cabeca... e sequer enxergava as piramides de Giza em meu horizonte.

Fiquei duas noites no Parque Tayrona, no caminho para a Venezuela, e nao conseguia acalmar meu espirito mesmo com as praias paradisiacas. Busquei refugio na incerteza das caronas, acreditando que poderia trocar a indefinicao de meu futuro por outra mais imediata. O unico resultado que consegui foi que acabei chegando em Maicao, na fronteira, muito tarde. E tive de passar a noite num hotel do lado colombiano. A mocinha que me atendeu ficou toda assustada por conta de minha cara e, apos ver meu passaporte, explicou-me que havia recebido uma multa de cem dolares, se nao estou enganado, por conta de hospedar um chino ilegal.

Nao e o Harlem, nem o Quenia. E Cartagena, Colombia

Friday, November 28, 2008

Faca o que te assusta

Cortando cabelo no banheiro do hotel Cucaracha


Pela manha, em Maicao (Colombia), resolvi caminhar os 14 km que me separavam da Venezuela. Depois de oito quilometros, consegui umacarona grudado na carroreceria lotada de uma caminhonete por conta de amaveis policiais colombianos que me deram arepa (massa feita com milho) e refrigerante.




Depois descobri que aquilo, o pau-de-arara, se chamava chirricherra e chegava ate Maracaibo, a tres horas da fronteira. Apos pegar minha estampa venezuela, evidentemente que tentei embarcar num destes "meios de transporte economicos".




A que parou para mim estava abarrotada de gente. Todos eram indigenas de Maracaibo. Fiquei com o corpo mais para fora do que para dentro do veiculo, com dois cabritos amarrados de pernas para o ar que esporadicamente mijavam e cagavam ao meu lado (ainda bem que bosta de "chivo" sao so umas bolinhas que quase nao cheiram). Eles seriama parrillada do dia seguinte daquelas familias. No caminho, passamos em varios controles policiais, e fomos parados em todos eles, nao porque eu estava com o corpo pra fora em cima de uma carroceria, mas porque eu tenho cara de chines ilegal... Fora um guarda que disse que meu passaporte era falso, nao tive mais problemas.




De Maracaibo peguei um onibus ate Caracas e fiquei no hotel mais barato do Lonely Planet (LP) para ver se teria condicoes de me hospedar com meus pais la - era domingo, e eles chegariam na terca de manha. O hotel nao era ruim, mas fui conferir outras opcoes. Venezuela e um pais muito caro para se viajar. A inflacao para este ano esta prevista em mais de 20% e a taxa de cambio fixa em 2.15 dificulta ainda mais, apesar de no mercado negro a cotacao ser de quatro bolivares fuertes para um dolar. Alem disso, na descricao das opcoes mais baratas de hospedagem do LP figuravam palavras como "cucarachas" e "love hotel". Apesar de ter visto quase 20 hoteis diferentes, os melhores custariam cerca de 150 dolares a habitacao triple, e ja estavam todos cheios. Os mais simples que tinham vagas nao aceitavam reservas de um dia para o outro.




Na segunda-feira, depois de uma tremanda chuva, fui para o aeroporto passar a noite la a espera de Dona Marlene e Oshima-san (Sr. Oshima). Como eles chegariam por volta das 5h15 seria muito caro ir de taxi pela manha. Chegando la, acomodei-me na praca de alimentacao em frente ao portao de desembarque, fiz umas pulseiras para passar o tempo e fui completando uma lista sobre o titulo "Faca o que te assusta!".




Apos enumerar algumas coisas bobas, refleti que o que mais me assustava naquele momento era largar os planos iniciais, me arriscar em nao receber de volta o dinheiro da passagem para o Egito e ir ao Panama para tentar o veleiro. Fiquei atonito, e como um religioso que recorre ao seu livro sagrado no momento da perdicao, peguei o livro de Herman Hesse (meus pais as vezes me dizem que vao ler os livros que estou lendo, preocupados com meu materialismo. Mas ha tanta espiritualidade em Hesse, Caeiro e Nietzsche quanto em Massaharu Taniguchi, Dalai Lama e Santo Agostinho).




Ja havia termindo de ler Siddharta e relido uma serie de suas passagens, e a cada releitura aprofundava minha compreensao sobre o que o autor queria dizer e o quanto aquilo estava inserido em minha realidade. Um dos trechos que mais me tocou naquele momento foi o da parte em que Siddharta anuncia a seu pai a decisao de sair de casa para partir com os samanas (ascetas), iniciando seu proprio caminho em busca da verdade.




O preceito "faca o que te assusta!" nunca esta sozinho. Ele vem acompanhado de uma constante recomendacao materna: "antes de fazer alguma coisa, lembre que voce tem pai, mae e irmao". Foi isso que me travou. Estava disposto a largar todos os planos, mas nao sabia o quao dificil seria para meus pais, principalmente para minha mae, saber que eu havia mudado o projeto inicial - que ja havia sido dificil de se assimilar -tao drasticamante. Preferi anular a busca por uma resposta, e dormi.




As 4h30 comecei a ter a sensacao de "encontro de namorados" que minha usou em um e-mail de uma semana atras quando dizia que estava fazendo as malas. Finalmente, as 5h45, meus pais chegaram e, se eu estava vivendo ate aquele momento nas CNTP (condicoes normais de temperatura e pressao), a partir dali passei a me sentir na cratera de um vulcao. A temperatura, lembrando a frase de Gautama que diz que e quente ter pai, mae, irmaos, subiu extrondosamente. E a pressao tambem, no sentido de responsabilidade, preocupacao e estresse por conta de me sentir tutor daquelas preciosas vidas num pais tao inseguro como a Venezuela.




Logo depois de trocarmos beijos e abracos, minha mae anunciou, resoluta: "Eu vim aqui para saber quando voce volta para casa!". E completou: "Eu fico preocupada porque me parece que com voce viajando por ai, isso pode se tornar algo como a reforma de uma casa". Referia-se ao processo tao costumeiro de mudar os projetos iniciais durante uma reforma, do tipo que se resolve do nada fazer um puxadinho aqui, uma churrasqueira ali; logo se passando para a piscina e, de repente, sem perceber, se esta no ofuro construido no meio do jardim japones.




Pegamos um taxi e fomos ate um hotel. Meus pais ficaram me esperando no carro e o recepcionista me informou que nao havia quartos livres. Depois de irmos a um outro, no qual a cena se repetiu, minha mae indagou: "Sera que nao e melhor voce tirar essa blusa?". Dei risada pensando que ela estava brincando ao se referir a minha jaqueta suja e costurada, e ao nao encontrar um sorriso como resposta, percebi que realmente ela acreditava que os recepcionistas podiam nao estar indo com a minha cara por conta das minhas roupas.




Ficamos num hotel bem simples que se inclui na categoria "cucarachas" do LP. Minha mae foi logo sacando as coisas que trouxe para mim e compunham metade das malas. Em seguida, cortou meu cabelo no banheiro do quarto, estando eu sentado na tampa da privada. No dia seguinte fomos a Ilha Margarida, menos caotica do que a capital, apesar de recebermos a companhia de Hugo Chavez que estava em campanha para os candidatos do PSUV (nao tenho nenhuma vontade de falar sobre isso. nao desejo nem a um militante do PSOL ou PC do B o mal de escutar um jingle que mais se parece "funk do Tio Hugo". Como nao ha palavras para se descrever o tremendo mal gosto, vou ver se acho na internet).




Foi otimo ficar na tranquilidade de uma praia caribenha, ouvir minha mae dizer que era bom para meu pai ter um momento de ferias como aquele, e ve-lo boiando com a cara para dentro d'agua. Alias, quando eu era pequeno e via o corpo do meu pai boiando enquanto ele prendia a respiracao, as vezes ficava com medo de ele morrer. Coisa de crianca. Desta vez, com 23 anos, senti uma enorme paz. Percebi que ele adora fazer isto pela sensacao de unidade que se tem com o mar. A mesma sensacao de unidade que talvez seja a busca de todo o ser humano. A busca de se sentir um com a natureza, um com o ser amado, um com Deus...




Meu pai me disse que um de seus amigos admirava meu despreendimento. Encarei como um elogio, apesar de nao ser asceta e ter a carencia de cerveja gelada em roda de bamba, para ficar nas coisas que posso citar. Mas o que talvez este senhor e os meus pais nao saibam e o quanto esta viagem aumentou meu sentimento de uniao com esta baixinha e este homem desengoncado que chamo, respectivamente, de mae e de pai. Dizem que so tendo filhos se pode compreender o amor dos pais, mas eu diria, despretensiosamente, que antecipei esta percepcao. Enfim, como voces sabem, posto do Egito... O Pacifico vai continuar la, a me esperar.

Sunday, November 23, 2008

A mumia do passado recente

Como ja disse alguma vez, nao e facil sentar na frente do monitor e comecar a bater as letras do teclado. E nao e facil porque enquanto estou aqui a revirar um passado recente que e tao velho quanto a mumia de Tutankamon, eu nao me sinto uma das zilhoes de coisas que estao em transformacao no universo (ta bom, ta bom... to exagenrado. Mas so pra voces terem a dimensao do que e estar aqui falando da America do Sul no Egito).
Somado a isto, ha o fato de eu nao ser objetivo o suficiente para narrar os fatos. Existe uma serie de sensacoes e reflexoes que exigem um enorme esforco de linguagem para serem expressados, e nao sou um literato para conseguir fazer isto como quem lava loucas.
De qualquer maneira, alem do compromisso com a minha uma dezena de leitores, ha em mim certa crenca ao reler alguns posts de que o esforco em expressar certos detalhes preteritos sera recompensado com muitas risadas...
Assim, fiquem tranquilos. Nao sairei de Cairo ate que termine os relatos do Equador, da Colombia e da Venezuela. Ao menos estou vivendo um romance com a cidade. Tanto que, se passasse minha lua-de-mel aqui, seria capaz de deixar minha mulher na casa dos sogros. O dificil sera conciliar o atraente horizonte egipcio com o 'luminoso' horizonte digital de pixels a cinco palmos da minha cara (ou, para ter um pouco mais de perspectiva, com o horizonte constituido por uma parede azul cheia de fios eletricos um pouco mais distante do monitor).
PS: daqui em diante, nao esperem acentos... tao pouco 'apesares' separados...
شكرا
Shukram
Obrigado