Thursday, January 29, 2009

Padarias da Cisjordania

Muro de concreto que separa Ramallah, na Cisjordania, de Israel


Abbas e Arafat, icones da Autoridade Nacional Palestina

Inas e Randa

Meu loft-padaria

Tentando localizar a padaria

Cheguei a cidade de Ramallah, na Cisjordania, as 16h. Fazia muito frio e ja havia me decidido que, caso nao encontrasse um albergue barato, voltaria naquele mesmo dia para Jerusalem.
Apesar do imponente muro de concreto que separa a cidade de Israel, o micro-onibus entrou rapidamente. O controle era maior com os veiculos que estavam saindo. Nestes, ospassageiros palestinos precisavam sair e passar por uma forte fiscalizacao (raio-x, detector de metais, inspecao de documentos).
Comi um falafel, metade do preco de Jerusalem, e fui procurar um lugar para ficar. O primerio hotel que encontrei custava 20 dolares. Segui caminhando e fui pedir informacao a um cabeleireiro. Ele nao falava muito ingles, mas ao me convidar para tomar cafe, percebi que realmente queria me ajudar.
Fiquei la por uma hora, e nesse meio tempo ela ja havia especulado de eu ficar na mesquita, ou talvez na mercearia do vizinho. No final das contas, por volta das 18h, seu paime disse alguma coisa da qual captei somente "sleep" e "bakery".
Acompanhei-os de carro e no caminho algumas palavras do pai do cabeleireiro (que vergonha de nao lembrar os nomes) confirmaram meu pressentimento, "Ramallah cold. Bakery hot. God!"Aquela coisa de dormir em padaria me era familiar e lembrei-me do Waldomiro de Deus, o artista plastico de Goiania que em sua adolescencia dormia sobre um forno de assar pao (vejamposts antigos).
Passamos pelo campo de refugiados de Jelas, contituido apos a Guerra de 67, e, meia-hora depois, chegamos a vila de Einyabroud. A padaria ficava numa rua razoavelmente movimentada.O irmao e o cunhado do cabeleireiro eram responsaveis por ela.
Ofereceram-me Coca, biscoitos e paes e, as 20h30, fecharam o comercio e foram para suas casas. Deixaram-me sozinho no meu loft com banheiro privado, teve a cabo, "calefacao" eestoque de biscoitos para uma semana inteira.
As 5h30 eles ja regressavam para pegar no batente de novo. Duas horas depois, o cabeleireiro e seu pai vieram me pegar. Levaram-me de volta ate onde tudo comecou, o salao de beleza,e eu segui meu caminho.
Queria me comunicar com os locais, saber como era ser um palestino, mas estava dificil encontrar alguem que falasse ingles. Imaginei que, com a minha cara e conhecendo os arabes,nao demoraria muito para ser abordado por alguma pessoa.
Levei duas horas ate Mohaned me dizer, "How are you?". Ele e Rafat estavam numa padaria (ha alguma coisa de mistica com elas, so pode ser) comprando o cafe-da-manha quando eupassava pela frente.
Fui com ele ate o Instituto de Frances de Ramallah, onde estavam alojados, e conversamos poralgumas horas.
Rafat cresceu em um campo de refugiados e trabalh como ator. Mohanad naceu na Jerusalem Ocidental, mas se recusa a se identificar como um israelense e, no campo nacionalidadede seu documento de identidade se ve uma sequencia de asteriscos. Seu passaporte e jordaniano. Trabalha fazendo filmes e viajara para o Brasil em abril por conta de um progrmade intercambio cultural.
Em seguida, caminhamos pelas ruas da cidade e eles foram me mostrando as marcas da ocupacao pelas forcas israelenses em 2002: destrocos de uma casa, desniveis no meio-fio porconta dos tanques de guerra. Numa ocasiao, pararam-me para dizer que naquele lugar onde estavamos um militante respeitado e admirado pelos palestinos foi assassinado porum agente secreto israelense.
Muhanad tinha um encontro com um amigo a uma hora e me convidou para que eu o acompanhasse. No escritorio de uma organizacao nao governamental palestina que coordenaprojetos sociais orientados ao publico infato-juvenil, conheci Allah, que nascera em Gaza e havia conseguido se mudar para Ramallah ha alguns meses gracas ao seu trabalho.
Allah me mostrou em seu computador suas paixoes: a musica (havia gravado um clipe em Gaza de uma cancao que falava sobre a formacao do Estado Palestino) e a sua filha de umano, a qual exibia orgulhosamente.
Mohanad e Allah seguiram conversando, vez ou outra traduziam o que estavam falando. Uma delas foi que ambos acreditavam que Israel invadiria Gaza em breve (estamos no dia 23 de dezembro).
De la fui conhecer o antigo campo de refugiados de Kad'Ora. Numa mercearia fui abordado por uma jovem, RANDA, a qual me convidou para almocar hamburgueres. Achei engracado que,enquanto quase todos os mulcumanos com quem tive contato queriam me levar para o Isla, a primeira moca com quem conversava me pedia, humoradamente, para que eu a levasse de la.
Randa me apresentou sua amiga, Inas, que assim como ela trabalha como enfermeira num hospital da cidade. Falamos sobre a proibicao do namoro e a obrigatoriedade do turbante.Como boas mulcumanas, elas nunca haviam tido qualquer contato fisico com um homem (nem sequer um inocente selinho). Ao me mostrar a foto de seu passaporte palestino, naqual ela estava com os cabelos soltos, Randa resmungou: "Por que tenho que usar turbante? Eu nao gosto disto!"
Voltei para Kad'Ora e Mohamed, filho do dona da mercearia onde conheci Randa, convidou-me para dormir em sua casa.
Fui com ele ate um cafe no qual trabalhava todas as noites e fiquei conversando com seu amigo, Mustafa, enquanto ele gerenciava os negocios.
Mustafa me explicou como um jovem deve proceder caso se interesse por uma mulher: pede-se a sua mae, ou irma, que va conversar com a familia da moca. Marca-se um encontro,sempre sob os olhares dos pais da pretendente, e assim o futuro casal tem a oportunidade de se conhecer.
Ainda convesariamos sobre Arafat, idolatrado por muitos palestinos que conheci; Hamas, "preocupado com a defesa dos palestinos de Gaza"; e sobre o direito de Ira de detera bomba atomica, "um equilibrio de forcas mundiais necessario".
Como nao havia muitos clientes no cafe naquela noite, Mohamed pode voltar mais cedo para casa. Jantamos, fumamos uma sheesha e eu dormi enquanto eles assistiam a Al Jazeera.

No comments: