Thursday, January 29, 2009

Maya, Arie e Teo

Maya e Arie

Sete anos depois de ouvir a estoria, ganho o livro! Obrigado, Maya!


Maya e Eu

Quem me conhece bem sabe de tres coisas: sou chorao, ranjo os dentes quando durmo e idolatro o Teo.
Vou deixar os dois primeiros pontos para outra oportunidade. O que importa agora e a estorinha do Teo. Para quem nunca ouviu falar, conto bem rapidamente.
Teo era um menino que descobrira que a cor azul tranquilizava as pessoas. Imaginou qeu se todos pintassem suas casas de azul, o mundo seria um lugar melhor. E, assim, escreveu cartas para aquelesque julgou como pessoas influentes: George Bush (presidente dos EUA), FHC (presidente do Brasil), Alckmin (governador de SP), Marta Suplicy (prefeita de Sao Paulo).
Depois de muito trabalho e nenhuma resposta, ele sentou-se sob uma arvore e, desiludido e cansado, comecou a chorar. Acabou dormindo e, quando acordou, percebeu que estava em frentea sua casa e que, pasmem, ela era amarela!
A partir do momento em que Teo pintou sua casa de azul e que as coisas comecaram a mudar. Pouco a pouco seus vizinhos, percebendo os beneficios da cor azul, pintaram seus lares, e assim, progressivamente, seguiram-seas vilas, as cidades, os estados...
Por muito tempo minha doutrina esta residida nesta pequena estoria, o que muitos ja devem saber. O que ninguem sabe e como o Teo entrou na minha vida. E e sobre esta historia que escrevo.
Tudo se passou no colegial. A Federal era, e deve continuar sendo, um circo de bizarrices intelectuais. Em todos aqueles adolescentes com rostos em que explodiam espinhas, pulsavauma insaciavel fome de saber, um desejo insano de transformar o mundo.
Apenas para que voces tenham uma ideia, havia o jovem que com quinze tinha terminado Casa Grande & Senzala e se dedicava a proxima escalada: a Enciclopedia Britanica. Outra, era a campeade todas as Olimpiadas de Matematica e ja se preparava para o ITA estudando integrais enquanto eu ainda tinha dificuldades com baskara.
Mas entre todas estas figuras ilustres, eu tinha uma especial admiracao pela garota que lia bulas medicas e havia lido a biblia para passar o tempo: Maya.
Ela e eu costumavamos passear pelo bosque. Acho que ela gostava de estar comigo porque eu a ouvia, enquanto minha atracao era que ela falasse daquele seu jeito peculiar quenao se cansa, nao da suspiros, nao para nem para aspirar um pouco de ar.
Muitas vezes quando eu a ouvia parecia que ela colhia as palavras corretas para definir toda as minhas angustias existenciais. E foi as vesperas de um debate em que ambos defenderiamoso anarquismo (ou era o comunismo?) numa aula de sociologia e que o Teo apareceu.
A historia passou a ser minha doutrina, ou melhor, meu atestado de culpa. Ainda que eu continuasse a querer "revolucionar" o mundo abominando a ALCA, a Walt Disney e o Roberto Marinho,a estoria nao deixava escapulir minha responsabilidade e isto me deu,apesar de continuar um jovem esquerdista, um pouco de autocritica.
O tempo passou. A Maya foi fazer filosofia na USP, eu, administracao na GV. Nao nos vimos mais e mal trocavamos emails. Foi no Acre que eu soube mais detalhadamente que os rumoresacacianos ("Amigos do Acacio" e um grupo de e-mails do colegial) de que ela ia se casar eram verdadeiros.
Para meu espanto, a ateia havia se tornado judia e estava morando em Jerusalem. Namorava um israelense russo e iria se casar na epoca em que eu estaria no Oriente Medio.
Oito de Janeiro de 2009, depois de vestir camisa, calca social e sapato, percebi que ainda nao estava realmente pronto para a cerimonia de casamento de minha querida amiga.Por sorte, a minha vaidade nao estava no armario da minha casa, mas a 200 metros de distancia, a cinco dolares de meu alcance.
Desde que o Leo Barone (amigo do DAGV) botou nome no meu penteado, Igreja da Pampulha, percebi que o tamanho do meu topete determina a minha auto-estima. Assim, passado o gel no cabelo,senti-me Fernando Narciso Oshima.
O casamento seria relativamente perto de meu hostel em Tel Aviv, mas como ja havia me perdido uma vez (ao procurar a rua Ben Gurion na cidade de Bat Yam, fui parar na Ben Gurion de Holon), julgueimelhor sair com duas horas de antecedencia.
Cheguei antes da noiva e, ao dizer isto, voces podem pensar: "Grande feito. A noiva e sempre a ultima a chegar." Sim ela e a ultima a chegar, e nao sem atrasar uns bons minutos, no mundo ocidental.Num casamento judaico, ela e a primeira a chegar porque tem uma sessao de fotos e, em seguida, recebe os cumprimentos dos convidados.
Depois de SEIS anos sem ve-la, foi assustador ver a coleguinha dos passeios no bosque se tornar mulher de veu e grinalda. Ao mesmo tempo, era curiosamente delicioso constatar queela seja a primeira da turma a se casar. A narradora da estoria de Teo sempre esteve na vanguarda por conta de sua constante busca de aprender, de ser uma pessoa melhor, dese sentir realizada.
Ao pensar nisto, quando vi Arie, o noivo, pisando a taca, que eu achei que era para celebrar o juramento mas que na verdade simboliza a destruicao do templo de Jerusalem,eu quase me junto ao seleto grupo de solucos lacrimejantes femininos.
O que se seguiu a cerimonia foi uma intercalacao de danca com refeicoes. Acho que os casamentos judaicos sao os mais fartos e animados.
Teo continua sendo um grande professor, mas hoje sinto que recebi um indulto. Enxergo uma cepa libertaria em sua estoria. Depois de Yuba e deste casamento, pintar a casa de azulnao e um meio para melhorar a humanidade, e um fim em si mesmo. Cultivar um lar, ser um bom conjuge, pai ou mae, tudo isto e que deveria realmente importar.
Nao hesito em dizer que a Maya esta no meu Top-5, com vacancia de duas posicoes, de pessoas que mais admiro por sua constante impaciencia que nao da tregua ao conformismo. Trata-sede alguem que tem consciencia de que e totalmente dona de seu destino. Uma caracteristica fundamental que define os genios.
Nesta nova etapa, desejo que se sinta cada vez mais plena. E tenho certeza de que seu lar sera repleto de paz, sempre cuidadosamente pintado de azul, ainda que ajam sobre eleos efeitos naturais da chuva e do vento, porque a tarefa de manter a casa azul e permanente.

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