Thursday, January 29, 2009

Centro Islamico em Arara - Israel

Numa das manhas que estava em Jerusalem visitei a mesquita Al Aqsar, uma das mais sagradas do mundo para os islamicos. O funcionarionao me deixou entrar dizendo que o acesso era permitido somente para mulcumanos. Contestei dizendo que so queria orar e, as perguntasque me fazia indagando se eu era islamico, eu replicava com "tergiversacoes diplomaticas" que nao negavam nem confirmavam.
No final, apos fazer uma par de perguntas relacionadas aos pilares do Isla e ao Wudu (purificacao do corpo feita antes da oracao), o homemme deixou entrar.
Fui orar na mesquita outras vezes e, numa delas, encontrei Sher Tariq (sher e um pronome de tratamento usado em respeito a islamicosdevotos), com que havia conversado pelos quarteiroes da Cidade Velha.
Ele me convidara para passar alguns dias num Centro Islamico no norte de Israel, cidade de Arara. Como planejava passar a vesperade Natal em Belem, combinamos que eu iria para la no dia 25.
No dia de Natal, apos o Eishah (ultima oracao do dia, apos o por do sol), peguei carona com um onibus que viera do norte com mulcumanos quevinham para Jerusalem orar na Al Aqsar. Tres horas depois, desembarquei em um posto de gasolina na rodovia onde Tariq e um amigo jame esperavam.
Fomos direto ao Centro, onde um grupo de "shers" nos esperavam para jantar. O predio ficava bem ao lado de uma mesquita e garotos e senhores ja dormiam em colchoes espalhados em um salao encarpetado.
Reunimo-nos a um grupo de cinco ou seis pessoas em outra sala. NO meio de lencois, travesseiros e colchoes estirados no chao haviauma farta bandeja com comida. Enquanto jantavamos, o Sher Ramada (nao me lembro de seu nome, na verdade), responsavel por aquele encontro islamico,foi falando sobre sua fe e suas viagens ao redor do mundo pregando os ensinamentos de Maome.
Como quem ja conhece o tipo de visita que eu fazia, isto e, aquela em que o turista so quer "saber mais a respeito", contou-me uma estoria:dois peixes, um pequeno e um grande, estavam em volta de um anzol a discutir se deveriam comer a isca ou nao. O pequeno queria devora-la,mas o grande o aconselhava a nao faze-lo porque iria para numa frigideira.
O peixe grande representava os profetas e "shers", os quais conhecem a verdade que transcende este mundo carnal, e, portanto, seguemos preceitos religiosos. O pequeno, os infieis que, ainda que tenha tido contato com a verdade, nao seguem seus preceitos e vao arder nona frigideira, quer dizer, no fogo do inferno.
E ainda completou, dizendo que entre o "infiel ignorante" e o "infiel que so quer dar uma olhada", o ultimo e o pior. Realmente, a ignorancia e uma bencao.
As 23h fomos para a casa do amigo de Tariq. Uma residencia de dois andares linda e espacosa com bandeiras da Arabia Saudita na fachadae uma mensagem de voz acionada ao se abrir a porta, "Allah e o unico Deus e Mohammed seu profeta".
Entramos e o aparelho de som estava ligando tocando um cd que recitava os capitulos do Corao.
As 4h45 do dia seguinte acordamos e fomos a mesquita orar o Sobehr (primeira oracao diaria). De la fomos ao Centro no qual todosja estavam reunidos em torno do Sher Ramada, o "Peixe Grande" (Tariq e eu o chamavamos assim). Ele estava sentado em uma cadeiraenquanto os demais, no chao.
Ao perceber minha presenca, chamou-me para que eu me sentasse ao seu lado. Ia me acomodar no chao, mas ele pediu que trouxessem umacadeira para mim. Nessa altura ja comecei a sentir certo mal-estar. E foi ai que ele me disse para repetir "Ahad an Lailah ila Allah waana Mohammed Rasur Allah", a frase escrita na bandeira da Arabia Saudita e acionado ao se abrir a porta da casa de Musa, amigo de Tariq.
Sabia o que aquilo significa, ano apenas literalmente. Trata-se do primeiro pilar do Isla, e um anuncio de que voce e um mulcumano.Fui pusilanime, com medo de cometer uma impostura, e repeti constrangido.
Em seguida, um por um, recebi os cumprimentos dos presentes. Havia gente ate tirando fotos e filmando com seus celulares.
Naquele dia fomos a mesquita mais quatro vezes. Na ultima, para rezar o Eishah, um senhor veio me dizer, do nada: "Voce sabia queSadam Husseim havia ordenado aos seus subordinados que encontrassem alguem para lhe ensinar ingles? Dez dias se passaram e Sadamfoi exigir explicacoes sobre a razado da demora. Seu secretario lhe disse que haviam encontrado tres americanos, mas julgaram melhormatar todos."
Ouvi aquilo sem saber o que fazer. Achei que o cara tivesse problema mental, mas depois Tariq me disse que por muito tempo elehavia trabalhado como comediante em Tel Aviv.
Ficamos na mesquita para jantar e Abed Mawassi disparava sem descanso um monte de piadas. Ao ouvir pilherias do tipo"como um gay se senta na cadeira?" Enquanto alguns riam a ponto de fazer Maome se revirar no caixao, Tariq e Mussa davam um sorriso de constrangimento e me diziam, "Isto era antes de ser um Sher, antes! Hoje ele eoutro homem."
Ouvindo Sher Mawassi vestido de galapeya (traje tradicional arabe) e com barba a la Profeta Maome, tive uma pequena visao do Paraiso.Imaginei judeus ordoxos, militantes do Hamas, soldados da IDF, padres armenios, Tariq, Mussa e eu reunidos naquela mesquita e soltandogargalhadas. E o bulicoso piadista continuava, para a alegria geral dos povos do ceu, "um padre, um sher e um rabino foram para o cabeleireiro..."

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