Thursday, January 29, 2009

Jerusalem: o sagrado e o profano

Vista apos cruzar a fronteira israelense: Mar Vermelho


O sol havia acabado de nascer quando atravessei a fronteira de Israel, apos alguns bons minutos de questionamentos feitos por uma jovem do exercito mais nova que eu.
Passei pelo detector de metais enquanto minhas malas estavam no raio-x. Tudo normal ate o soldado apontar para a minha mochila azul, na qual carrego livros. Foitirando um por um ate chegar no que eu havia guardado intencionalmente no fundao, o Corao, presente de Wael, funcionario do Sultal Hostel.
Como o cara nao falava ingles, ele chamou a referida mocinha mosrtando o livro sagrado islamico em uma das maos.
Ela me perguntou o porque de estar com aquele livro, o que eu ia fazer em Israel, qual era o meu Deus, o que meus pais achavam de eu esatr tendo contato com a religiaomulcumana...
Depois foi vendo os outros livros. Uma pena que ela nao conhecesse Nelson Rodrigues, Reinaldo Azevedo e Olavo de Carvalho. Mas ela conhecia, como os tutsis e os ianomamis,Barack Obama, "Por que voce esta lendo sobre Obama? Gosta dele?". Enchi a boca para dizer, "Todo mundo esta lendo, mas eu preferia McCain."
Achei que, pela primeira vez, ela tinha ficado satisfeita com uma resposta minha. Mas, ao saber que eu ia vijar por Siria, LIbano e Ira e precisava do visto em papelalheio ao meu passaporte, continuou: ""Nao acha Ira perigoso?"
Ainda passei por outra mocinha, esta mais calma, do tipo que vira a cabeca pro Mar Vermelho, da um suspiro de satisfacao, e volta a trabalhar mais resignada. Mas, ainda assim,levei um tempo la.
Talvez por ser brasileiro com cara de japones e viajar so com algumas miseras mochilas, ela tenha hesitado em me dar o visto de tres meses, dizendo que Israel era um pais muitocaro e bla, bla, bla...
Para nao por a extremidade de saida do seu sistema digestorio na reta, ligou para um superior e so depois me deu o visto de tres meses (quase que em meu passaporte!).
Era um dia lindo e a vista para o Mar Vermelho e realmente inspiradora. Optei por caminhar os dez quilometros ate a rodoviaria. Ja no caminho se constata o obvio: Israel esta muito mais para os melhores exemplos do mundo Ocidental do que para o Oriente Medio. Digo isto por conta da qualidade de sua infra-estrutura (porto, rodovias,onibus, construcoes) e do funcionamento de suas instituicoes (desde o rapaz que te vende a Coca de um UNICO preco, ate o bilhete de onibus comprado sem necessidade debarganhar).
Enquanto esperava o onibus para Jerusalem na rodoviaria de Eilat, senti um enorme vazio, mas nao era pela solidao. Vi garotos e garotas menores que eu com suas mochilas,fardas e uzis que batiam em suas costas como se fossem violoes. Jovens com quem, em comum, eu nao tinha nem a idade.
Deixando de lado esta breve divagacao, no onibus eu assisti a primeira briga entre um mulcumano e um judeu. Aquele perturbava os passageiros ouvindo musica com seucelular e este pediu para que ele o desligasse. Foi o comeco de uma longa confusao. Uma cena que, a parte religioes, podia acontecer em qualquer lugar. Mas na Terra Santapode ser potencializado por intolerancias (religiosas, etnicas).
Hospedei-me no hostel Al Arab no quarteira mulcumano da Cidade Velha, onde tudo e mais barato. Estava num lugar sagrado para tres grandes religioes - a crista, a mulcumanae a judaica -, mas, ainda assim, foram inumeras as vezes em que vi judeus e arabes trocando provocacoes. Os cristaos tambem nao se salvam do profano, e brigam entre si (armenios,sirios, gregos...) disputando as paredes, telhads e centimetros quadrados do chao da Igreja do Santo Sepulcro. Ouvi dizer que, quando fazem a limpeza da Igreja, a policia ficaa espreita para evitar confusoes do tipo: "Voce esfregou o meu territorio!"
Uma vez, quando eu estava caminhando pelo mercado mulcumano, um garoto de onze ano cujas feicoes me lembraram muito um amigo da Seicho-No-Ie, Artur, disse-me, sem protocolo,"Eu odeio os judeus!" Pra mim, que desde pequeno encarei a conjugacao do verbo odiar como uma coisa pudica, foi um grande espanto ouvir esta afirmacao.
A alguns dias do Natal, eu tentava buscar nao apenas papais-noeis e pinheirinhos, mas um pouco de espirito natalino. Nao precisa ser cristao para se ter fe na fraternidade dospovos, e era triste perceber que nao bastava orar cinco vezes na Al Aqsar ou tres no Kotel (Muro das Lamentacoes) para se enxergar no outro uma criacao divina.

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