Thursday, July 31, 2008

Centro-Oeste: o encontro do Brasil com a sua grandeza

Depois de ter dormido no CETREMI, que sem dúvida deve ter deixado vocês de perna bamba (piadinha tosca, mas eu precisava fazer), e postado para o blog, passei a planejar a Expedição Pantaneira no aconchegante lar de minha prima Noeko.
Já havia feito uma pesquisa rápida com alguns guias turísticos que curtiam seu happy-hour à frente de um bar, e, evidentemente, constatei que a diversão proposta nao cabia em meu bolso (cerca de R$250,00 para um passeio de cinco dias que incluía pesca de piranha, passeio a cavalo, refeições e hotel fazenda). Tentei analisar opções, o que seria impossível com aqueles guias ávidos por violar meu orçamento.
Possuía em minhas mãos um excelente mapa da Estrada Parque Pantanal Sul, principal destino das agências de turismo de Campo Grande e única estrada que ligava Corumbá a CG no século XIX, e julguei que seria possível atravessar seus 120km de extensão caminhando e pegando carona. O período não era de chuva e o único empecilho era o fato de que não havia mais balsa que atravassasse os carros no R. Paraguai, localizado mais ou menos na metade do caminho.
Assim, tracei o seguinte plano:
- Pegar uma carona até o início da Estrada Parque pela BR 262 que liga Campo Grande a Corumbá;
- percorrer seus 120 km em dois dias, sendo que eu dormiria na margem do Rio Paraguai e o atravessaria de lancha com algum pescador lá presente;
- tentar carona em Corumbá ao final da jornada.
Recebi muitas recomendações para que eu não realizasse o percurso por conta da escassez de carros que transitam na região, além do perigo proporcionado pelos animais selvagens, mas a discriminação detalhada de fazendas e hotéis que havia no mapa em meu poder me fizeram acreditar que o trajeto seria exeqüível a minha maneira, não faltando carros para carona, nem cantinhos habitados para dormir.
Assim, na quinta-feira acordei cedo, tomei um ótimo café-da-manhã e minha prima e seu filho (Rique) me levaram ao posto de gasolina na saída para Corumbá. Naquele momento de despedida percebi o quanto esta viagem proporcionou o estreitamento de relações com parentes que não via há pelo menos oito anos. E ainda que uma situação normal de viagem, em que eu estivesse tirando férias e seria levado a um aeroporto ou rodoviária, não gerasse tamanha união, ficaria menos envergonhado ao ver a preocupação nos olhos de meus primos.

Três horas e meia depois conseguiria uma carona em um caminhão que ia direto para Corumbá pela BR 262. Deixei em Campo Grande a acolhida de meus familiares, a coceira do CETREMI e algumas roupas desnecessárias (ceroula e blusa de frio).
Desci a 180km de Corumbá, por volta das 16h30, bem na boca da estrada pantaneira. Como faltava pouco para escurecer, precisava de uma carona que me desse uma boa dica de local para passar a noite. Um outro rapaz também aguardava alguém que pudesse levá-lo para o interior da Estrada Parque, seu nome é Gilmar, tratorista da Fazenda São Bento. Ele havia ido a uma cidade próxima, Miranda, para resolver algumas coisas e tentava voltar a tempo para pegar no batente às 18h (trabalhava num esquema parecido com o meu no Japao: uma semana de dia, outra de noite - das 6h às 18h, ou das 18h às 6h).
Sugeriu-me que falasse com seu patrão, o gerente Célio, o qual poderia arrumar uma habitação até o dia seguinte. Assim, às 17h30, graças aos dois, estava fazendo meu primeiro tour pelo Pantanal na carroceria de uma L200 nas terras de um ente da família Ermírio de Moraes. Naquele momento compreenderia que ir ao sítio do meu tio e ficar em meio ao cafezal não significava estar envolto pela natureza. Admirando tuiuius, colhereiros, carcarás, araras-vermelhas, tucanos, papagaios e quero-queros, lembrei-me de meus amigos aficcionados por drosófilas e angiospermas (Bruno Che e cia): sem dúvida teriam com que se divertir.
A lua cheia banhava com sua luz a planície pantaneira, o horário era muito propício para se observar os pássaros e, a 100 km/h de pé na carroceria, eu imaginava o meu rosto como um pára-brisa de caminhão: os insetos batiam na cara e o menor dos problemas era de algum mosquito entrar na boca, dado que a chance de um deles pegar nos olhos era maior.
Por volta das 18h30 chegamos na sede da fazenda. Na janta, aproximadamente às 19h, os funcionários conversavam sobre a onça de 92kg que foi capturada durante a manhã pelo grupo de biólogos (http://www.procarnivoros.org.br) que realizavam uma pesquisa para averigüar os efeitos do animal no rebanho de gado. Já haviam pegado seis onças, mas ainda restavam mais quatro coleiras rastreadoras a serem instaladas.
Dirigi-me à sala de televisão do alojamento dos tratoristas e pecuaristas. Passaria a noite em um sofá, muito confortável por sinal, porque todas as camas estavam ocupadas. Antes de dormir, assistiria à novela do SBT, Pantanal, contente de ser um coadjuvante daquele estilo de vida tão peculiar que por si só parece promover o ibope da telenovela.
Acordei às 5h15 junto com os funcionários. Comi meu gohan da manhã, um delicioso arroz carreteiro, e saí para minha cruzada antes das 7h. Logo na porteira da fazenda tive de atrasar em 30 minutos o início da expedição por conta de uma boiada. Eram 1000 cabeças de gado para seis pecuaristas que viajariam por um mês e meio num ritmo de 15km por dia (lembrei-me com vergonha da vez que tentei deslocar seis bezerros em Yuba... vergonhoso).
Caminhei até às 10h30 quando peguei uma carona com uma Hilux. Não é de se surpreender que eu tenha pegado carona em L200, Hilux e Ranger na Estrada Parque. Primeiro, porque 90% dos carros que por lá trafegavam eram de fazendeiros ou donos de pousada da região. Segundo, porque como a média de carros por hora que passavam na estrada era de aproximadamente um, havia uma maior empatia do motorista em relação ao andarilho.
Fui com a Hilux até a Curva do Leque. Eram 11h e ainda restavam 16km até o Rio Paraguai (Porto da Manga), local onde havia planejado passar a noite. Achei que poderia fazer o trajeto restante a pé e decidi não pedir carona a partir dali (a decisão nem foi necessária, dado que passaram tão poucos carros). A paisagem ao redor da estrada se tornaria mais paludosa, com jacarés, capivaras e sucuri ao invés das cercas e dos gados de até então (o que tornava menor a quantidade de pessoas na região). Era divertido e até complacente para a minha solidão ouvir o gemido de uma capivara, o qual eu interpretava como um "lá vou eu...", antes de saltar para o seu tibum água adentro por conta de minha presença.
Também era muito comum ver na estrada carcaças de jacaré sem rabo (retirados para se comer) e de capivaras sendo saboreadas por carcarás. Na fase final do percurso, próximo ao rio, retirei as botas para cruzar trechos alagados da estrada que chegavam a ter água até a altura do meu joelho (foi nessa hora que avistei uma sucuri).
Às 15h30 chegaria no Porto da Manga. Nunca havia andado mais de 10km em um dia (foram cerca de 28km), estava exausto. Como os empreendimentos comerciais da margem em que eu estava do Rio Paraguai tinham todos falido, foi fácil encontrar um lugar para dormir. Havia umas 20 pessoas por lá, uma delas era Seu Nenê, responsável por tomar conta do que restou. Ele me deixou dormir no salão de um antigo boteco.
Com um grupo de cinco pescadores paranaenses, quase todos aposentandos, consegui colchão, comida e água. Fiquei muito admirado com a disposição dos caras, que viajavam em um ônibus-trailler com os seguintes dizeres em seu vidro traseiro: "Não tenho pressa / Estou em Casa / Sou de vagar / Plante árvores". Antes, no lugar desta última frase, havia esta outra "Bar doce bar" que foi trocada para evitar problemas policiais.
Tomei banho no rio, pesquei alguns lambaris e alimentei as piranhas na tentativa de pescá-las. Antes de (tentar) dormir, comi o pintado cozido e o sashimi de piraputanga dos paranaenses, tudo acompanhado de uma lata de Bohemia bem gelada (façanha dos caras que tudo tinham naquele impressionante ônibus-trailler).
No barco Aguapé, a esquadra saía apenas das 18h às 19h30, já no Porto da Manga o ataque do pernilongos era constante. O velho e conhecido repelente Off parecia já ter sido assimilado pelos bichinhos. Não podia sequer tentar me esconder no saco de dormir porque o calor era insuportável Talvez fosse o caso de procurar o repelente do exército francês que Fábio Zanini usou na África (recomendo seriamente: http://penaafrica.folha.blog.uol.com.br/), mas acho que enfrentaria o problema de sempre: meu controle orçamentário (isto se o encontrasse na praça).
Logo pela manhã do dia seguinte, sábado, cruzaria o Rio Paraguai numa lancha e pegaria carona até Corumbá. A dor de minhas pernas não permitiria que eu pensasse duas vezes em não terminar os 60km restantes de carro. Assim, na carroceria da Ranger certamente a mais de 100km/h, sentiria duas coisas bem distintas: a primeira, a emoção de observar um ipê com flores rosas romper com a homogeneidade verde pantaneira. Naquele momento, não se tratava de admirar uma paisagem recorrendo a lembranças pessoais ou imaginando quem poderia estar ao meu lado. Tudo aquilo me foi interessante e único porque eu via exatamente um ipê com flores rosas no Pantanal Sul Matogrossense. A segunda sensação, era a dor de meu quadril por conta do trepidar do carro. Para se ter uma idéia, me sentia a esfregar a calça no tanque de lavar roupas estando-se dentro dela (sim, é bizarro, mas foi essa a sensação). Mas isto não foi suficiente para retirar a beleza e a diversão de se subir a Morraria do Rabicho tendo a vista panorâmica da planície paludosa que acabara de atravessar.
De Corumbá fui a Arroyo Concepción para verificar os preços das câmeras. Haviam falado muito sobre a pobreza boliviana, mas não julguei a cidade mais carente do que Porto Casado no Chaco Paraguaio, por exemplo. No final, acabei não comprando nada, mas valeu a visita.
Tentaria retornar a Campo Grande no mesmo dia, apesar de não conseguir nenhuma carona de caminhão no posto fiscal. Ao menos pude conhecer dois funcionários da MMX que me falaram orgulhosamente sobre a empresa.
Chegaria em Campo Grande às 21h30 e às 23h30 na rodoviária. No saldo de caronas, apenas carros: os caminhoneiros realmente receavam transportar um jovem que poderia portar drogas por conta da fronteira com a Bolívia. Como não havia conseguido falar com minha prima, decidi que passaria a noite na rodoviária, em frente ao posto policial. A uma da manhã, fui acordado por um policial que me avisou sobre a kombi do CETREMI. Achei mais seguro passar o restante da madrugada lá e fui, pela última vez, enfrentar a clínica de reabilitação.

No dia seguinte, domingo, acordei antes da sirene de despertar, às 5h30, para pegar carona com um funcionário até a saída para Cuiabá. Fiquei em um trevão no qaul os veículos passavam a uma velocidade muito alta para se conseguir carona. O posto mais próximo estava a uma distância muito grande que não poderia fazer a pé. Acabei ficando lá mesmo com o polegar levantado, achando improvável conseguir uma carona, aliás, não a desejando, dado que no fundo queria uma vez mais ficar com minha família.
Fiquei naquela posição por cerca de duas horas e meia (eram quase 9h da manhã), quando achei que já era suficientemente tarde e poderia me dirigir ao Parque das Nações Indígenas, próximo à casa de minha prima, tirar um breve cochilo e ligar para ela. Como sempre, fui muito bem acolhido. Naquela tarde desfrutei uma saborosa feijoada no clube Nipo-brasileiro de Campo Grande. Aliás, sem dúvida alguma, as melhores refeições que fiz durante a viagem foram por conta da família Mitsuyasu (Obrigado!)! Também fui presenteado com uma Cybershot que ela não usava mais e que tem me servidomuito bem. Agradeçam a ela pelas fotos que aqui publicarei.
Na segunda-feira, ambos tivemos menos dificuldades em nossa segunda despedida. Um frentista evangélico me ajudou e consegui carona em menos de 30 minutos sem fazer uma tentativa sequer. Fiz questao de ligar para a minha prima, ainda que fosse a cobrar (sempre cara-de-pau, agradeço pela resignação de tantos de vocês). Naquele momento, após conseguir uma das caronas mais fáceis de minha vida, refleti a respeito dos aprendizados proporcionados pela estrada. Talvez ela seja uma boa mestra não somente por te apresentar situações ímpares, mas porque ela te deixa realmente sensível para que se possa aprender e se emocionar com tais situações. Daí o fato de que, mesmo quando fácil, é impossível banalizar o significado de uma carona - de um gesto de solidariedade (neste caso, três: da minha prima, que pensou no melhor local para se conseguir a carona; do frentista, que me garantiu que iria consegui-la para mim; e do caminhoneiro, que confiou na palavra do frentista).

Seu José Maurício é o primeiro caminhoneiro que conheço que tira os sapatos para entrar na cabine. Atitude totalmente sensata, dado que se trata de seu lar por ao menos 26 dias no mês. Com ele planejava chegar em Cuiabá, mas o posto fiscal da divisa de MS com MT não permitiu.
Senti na pele o atraso que é para as transações comerciais a cobrança de ICMS no Estado de destino. Chegamos às 16h no posto e as notas começaram a ser averigüadas e lançadas somente após às 21h. Se não bastasse, às 22h45 descobriríamos que havia uma pendência fiscal. Resultado: dormiríamos lá; Seu Zé no caminhão, eu no banco em frente ao guichê.
No dia seguinte, às 7h, agradeci-lhe, mas pedi licença para procurar outra carona. Continuaria o restanet da viagem com o caminhoneiro Valério e chegaria em Cuiaba por volta das 13h. Fui até o centro da cidade de onibus, porque ainda me doiam as pernas, e passeei pelo centro até escurecer. Um senhor me levaria de carro até o albergue público da cidade. Infelizmente para mim, mas felizmente para os já albergados, a cidade contava com um verdadeiro centro de triagem que separava os casos de alcoólatras e drogados, dos migrantes e moradores de rua, mas as assistentes sociais só atendiam até às 17h (quando cheguei no centro já eram 19h). Assim, o Cabeça-Branca, funcionário do centro, disse-me que não poderia passar a noite nos albergues (para moradores de rua e migrantes), mas, caso desejasse, arrumaria-me um colchão no próprio centro (para drogados, alcoólatras e retardatários como eu).
Antes mesmo de iniciar meu questionário para reconhecimento da instituição, Cabeça-Branca me disse, ao saber que já havia dormido no CETREMI de Campo Grande: "Aqui é pior do que o CETREMI". No mesmo instante, veio-me à memória a música de fundo escolhida (de maneira infeliz) para a apresetanção da montagem fotografica na minha cerimônia de colação de grau: Rehab, de Amy Winehouse, "They tried to make me go to rehab / But I said 'no, no, no'". Olhei para o Sr. Carrasco e implorei, "O senhor pode me levar na rodoviária". A rodoviária era muito mais tranqüila e segura do que a de Campo Grande. Apenas teria de dormir sentado mais uma vez.
No dia seguinte pegaria um ônibus até a Chapada dos Guimarães (R$14,50 ida e volta). O parque da Chapada estava fechado por conta de um acidente que ocorrera meses atrás e as opções de trilhas e passeios estavam muito reduzidas, além de serem inacessíveis para o meu orçamento. Restou-me a opção de fazer 16km a pé em direção à Cuiabá apreciando as paisagens que rodeavam a estrada.
Logo na saída da cidade conheci um retirante baiano, Seu José, que já estava no Estado há alguns anos. Havia terminado um serviço numa cidade próxima e desejava tentar a sorte em Sorriso, cidade no Norte do Mato Grosso que tem crescido muito por conta da agricultura de grãos (há uma matéria boa sobre a cidade em alguma Veja de julho). Não sei há quantas horas ele tentava carona, mas pude perceber seu drama por suas falas desconexas e incoerentes. Convidei-o a andar comigo até um posto de gasolina, onde seria mais fácil a empreitada. Lá, continuou relutante em me deixar, mas insisti que seria mais fácil se esperasse ali.

Seu José vai pra Sorriso.

Continuei caminhando como planejado por mais dez quilômetros, pensando o que haveria ocorrido com aquele moço. Quando estava cansado o suficiente para ter disposição para estirar o braço e tentar minha primeira carona, passa uma velha Toyota-Bandeirante da qual desceu o Seu José a alguns metros a minha frente. Continuaríamos a caminhar juntos até a entrada do Parque Nacional das Chapadas dos Guimarães. Algumas pessoas esperavam o ônibus que ia até Cuiabá. Seu José preferiu ficar lá por conta dos R$10,00 que havia ganho do motorista da Toyota e seriam suficientes para pagar a condução, enquanto eu, decidi explorar o Parque passando por baixo do portão.

Chapada dos Guimarães

A respeito deste meu momento de transgressão, e ainda que seja tosco, só quero registrar que tenho sido o mais legalista possível durante a viagem. É evidente que o difícil mesmo é ser moral, mas coloco este fato no topo de minhas infrações como viajante. Ainda assim, foi otimo caminhar pelo parque deserto, seguindo apenas as indicações das trilhas. Um fato merece menção, apesar de talvez não parecer tão comovedor assim.
Quando tomava banho numa das piscinas naturais do parque tinha noção do perigo que seria experimentar as piscinas mais fundas, pois em matéria de natação, não sei quase nadar de "cachorrinho". Então, concentrei-me nas partes rasas. O azar foi que meu cadeado caiu justo na piscina funda. Fiquei olhando para o cadeado, tentando traçar estratégias para pegá-lo, mas não havia jeito. Era entrar na água, mergulhar e nadar até a margem (que não estava nem a três metros de distância). Cara, quando mergulhei, não conseguia alcançar o cadeado... sequer conseguia saber ao certo onde ele estava. E ao tentar me segurar nas pedras para tomar ar antes de mergulhar novamente, escorregava sem conseguir me sustentar fora d´água.
Finalmente, quando consegui pegar numa parte mais sobressalente da pedra, pude ver ao certo onde o cadeado estava. Mergulhei novamente e consegui pegá-lo. Duvidando de minha capacidade de nadar com ele na mão, joguei-o para uma das margens e nadei para a outra pela qual poderia sair da água. Sem brincadeira, sai mal conseguindo ficar de pé de tanto medo, mas fiquei orgulhoso de mim mesmo por tê-lo retirado daquela fundura (nem 2,5 m).
Ainda que exausto pela operação resgate, resolvi continuar a trilha que me levaria à Cachoeira Véu da Noiva. A vista foi revitalizadora e resolvi voltar para Cuiabá pegando o ônibus das 16h15. Eram 17h30 quando cheguei na cidade e achei que ainda poderia conseguir carona até a cidade de Rondonópolis, acerca de 250km de Cuiabá.

Véu da Noiva

No ponto de ônibus resolvi consultar um soldado do Corpo de Bombeiros sobre a condução que deveria tomar até a saída da cidade. Para meu espanto, o Soldado Francisco não somente tirou minha dúvida, como se interessou pela minha condição de viajante. Expliquei-lhe de que maneira estava viajando (caronas, noites em rodoviárias, orçamento restrito) e ele sacou um dinheiro para me dar. Agradeci, mas disse que não podia aceitar. Respondeu-me que comprasse um refrigerante, o qual não recusei. Quando retornei com o troco, veio o inusitado convite: "Você não quer descansar em casa hoje? Aí amanhã cedo você tenta sua carona."
Foi a primeira vez, durante esta viagem, que recebia um convite como este, e em tão pouco tempo. O soldado não fizera milhões de perguntas para saber minha procedência, formação, tipo sangüíneo, religião, "opção" sexual, simplesmente fez o convite ao perceber que era tarde e eu não tinha onde passar a noite. Diante de tamanha bondade, não pestanejei. Perguntei se ele estava raelmente falando sério e disse que sim, gostaria de passar a noite em sua casa.
Já no ônibus, a caminho de sua casa, ele foi me contando sobre sua história, profissão e família. Falou-me sobre o trabalho do corpo de bombeiros para conter as queimadas da região do Pantanal e do Cerrado; contou-me sobre sua dura juventude nas ruas, quando fugiu de casa, no Mato Grosso, e foi parar no Rio de Janeiro; e me falou com orgulho sobre sua esposa (Janaína) e suas duas filhas (Geovana e Nikoli). Antes de chegarmos, ligaria para casa avisando: "Meu amor, arruma o quarto de hóspedes que um amigo vai dormir em casa hoje."
Quanto tempo você precisaria para convidar alguém para dormir em sua casa? Após ter feito quais perguntas? Foi isso que fiquei tentando me responder. O Soldado Francisco passou por uns bocados muito maiores do que os meus: era muito mais novo que eu, logo que chegou na cidade teve suas coisas roubadas, não tinha a quem recorrer, ficou morando na rua por meses tendo só a roupa do corpo... Seria isso o suficiente para justificar o rápido convite? Talvez sim, talvez ele tenha motivos suficientes para criar alguma empatia comigo; mas até aí, dar todo este voto de confiança em mim... é realmente bondade pura, apesar de ser chavão, não sei como definir.
Enfim, fiz uma ótima refeição (Francisco ficou assustado pelo tanto que comi, hhauhuaha), lavei minhas roupas com OMO e Comfort e conheci a casa (a segunda, aliás) que o soldado e sua esposa constróem nos horários livres para alugar.
No dia seguinte tentaria minha carona para Rondonópolis. Saimos às 6h da manhã e às 8h estava no posto de gasolina à beira da estrada tentando começar a viagem para Goiânia. Naquele quinta, véspera do dia do motorista (25 de julho), bateria meu recorde de horas consecutivas tentando carona: foram quase nove horas, com parada apenas para comer um nutri.
Quando eram quase 16h30, passou pela minha cabeça o dito popular "dia de muito, véspera de nada", mas logo refleti que pensar desta maneira seria muita ingratidão de minha parte com o Soldado Francisco e todos aqueles que haviam me ajudado ate então. Decidi ir ao banheiro lavar o rosto. Aquele gesto me pareceu o momento decisivo da balada... quando, aos 44 minutos do segundo tempo, o cara se olha no espelho do banheiro, sorri para não chorar e pensa: "Vamo, cara! Vamo! Agora vai!". Tendo recuperado levemente o vigor da própria estima, não deu dez segundos e a bola quicou a minha frente na pequena área: "Ei, japonês! Você ta querendo ir pra Rondonopolis?"
Seu Antonio estava com sua caminhonete na oficina, viera para Cuiabá para deixar um amigo no aeroporto quando teve um problema com o carro. Esperamos que o veículo fosse consertado acompanhando os preparativos para o churrasco que seria feito no posto em homenagem aos caminhoneiros, e saímos de lá às 19h30. No caminho pude saber um pouco mais sobre a vida deste interessante senhor. Ele era casado com uma nissei (filha de japonês), tinha uma filha e, assim como o Soldado Francisco, fugira de casa ainda jovem (15 anos) para não ter de crescer sem instrução na roça. Começou como ajudante de obras e em pouco tempo se tornou braço direito do responsável geral da construção. Hoje, possui diversas imóveis alugados e propriedades rurais (uma delas, no Pará, lhe rendeu um mandato de prisão preventiva por conta da morte da freira Dorothy Stang, mas seu envolvimento não foi comprovado).

Família de Seu Antonio e amigos


Como chegamos muito tarde na cidade, Seu Antonio me cnvidou para dormir em sua casa. No dia seguinte, eu ficaria até o almoço para só depois prosseguir viagem. Pela manhã, a casa receberia muitas visitas: um morador de rua muito amigo dos donos da casa, um professor universitário se candidatando a vereador e um comerciante. Todos conversavam igualmente sobre temas que foram da descriminalização das drogas até as eleições de Rondonópolis. Após o almoço, Aderbaldo (se não me engano), o morador de rua, levou-me até o posto de gasolina com a caminhonete de Seu Antonio.

Desta vez a carona não demorou (2h30 no máximo), mas teve um porém que eu não entendi no início. Seu Papagaio (não me recordo de seu nome e depois vocês entenderão o porquê do apelido) em princípio me disse que não me levaria porque estava com a cabine cheia, mas em seguida me chamou dizendo que se eu quisesse poderia ir na carroceria (que estava vazia). Perguntei até onde ele me levaria e se não haveria problemas com a polícia. Respondeu-me que não sabia dizer se seriam 50, 100, 200 km, mas que não seria até Goiânia. Quanto à polícia, disse para não me preocupar porque não veríamos muita pelo caminho.
No começo, achei ótimo ficar sentando em cima de uma lona que estava dobrada na carroceria, de costas para a cabine, a curtir a paisagem, a brisa, o sol de final de tarde. Logo na primeira parada descobriria porque o homem não queria que eu fosse com ele na cabine. Ao seu lado estava um louro, o qual trazia desde o norte do Mato Grosso. E o papagaio era a razão de tudo sempre: se parávamos, era porque o louro precisava de ar-fresco; se o homem comprava bolo, era porque o louro estava com fome; se pegávamos água, o louro devia estar com sede...
Às 23h, paramos em um posto para dormir. O Sr. Papagaio e seu bichinho de estimação na cabine, eu e minha lona como colchão na carroceria. A noite estava estrelada e achei divertidíssimo dormir ao relento.
Pegamos a estrada bem cedo e por volta das 11h, quando chegavamos perto do trevo em que deveria descer para seguir no sentido de Goiânia, Seu Papagaio preferiu continuar em direção a um outro trevo 300 km a frente, já no Estado de Minas Gerais, acreditando que lá seria mais fácil de conseguir carona. Como estava na carroceria, não pude contestar. Ao meio dia já nao aguentava mais ficar naquela carroceria. O calor vinha do sol a pino e do vento quente que batia nas minhas costas por conta do motor do caminhão.

Na carroceria do caminhão do Seu Papagaio por 800km+/-

Faltavam apenas 30km para saltar e estava acompanhado de Churchill quando o fato imaginado aconteceu. Ao ver a luz piscando, nem pensei que se tratasse do exército alemão que via saltar das páginas daquela biografia (apesar de Seu Papagaio também tratá-la como impiedosa). Já tinha a certeza de que era a Polícia Militar Rodoviária mineira. Naquele momento, não que eu quisesse, sai dos fundos do palco e tirei os holofotes do caro amigo louro, por sorte do Sr. Papagaio. Assim, a impiedosa PM mineira lhe conferiu uma multa, mas meu momento de estrela foi o suficiente para despistar o crime ecológico que o caminhoneiro estava cometendo. No final, acabei fazendo os quilometros restanets na cabine, ao lado daquele com quem dividi atenções.

Pegaria mais duas caronas até chegar em Goiânia as 23h. Estava muito tarde para procurar um lugar seguro para dormir, mas felizmente a rodoviária era muito boa (a única que conheço que fica dentro de um shopping, ou que tem um shopping dentro, sei lá). No dia seguinte, achei merecido dormir em um colchão e estava disposto a pagar o valor de meu orçamento diário. Caminhei em torno da rodoviária procurando algum hotelzinho barato (e, se possível, com café da manhã). Havia muitas pensões e hotéis por conta da feira hippie que reúne mais de 6.000 feirantes aos domingos na praça a frente da rodoviária, mas nenhum estava disposto a me ofertar o quarto por R$8,00.
Como já aprendi a ser paciente e a não aceitar de cara um negócio, continuei andando até achar um quartinho de hotel que coubesse no meu bolso. O preço correto era R$13,00 com café-da-manhã, mas por se tratar de um cubículo com cadeado que me lembrava o do meu cofrinho de infância, o moço me fez por R$10,00 o quarto, o café-da-manhã e o dinheiro do busão para o dia seguinte (R$2,00). Acharam bom negócio, não é? Mas não foi... acabei nem dormindo lá, e isto porque não tive paciência suficiente, como imaginei que tinha tido.
O fato é que depois de ter me acomodado neste hotel, sai para conhecer a cidade e ao final do dia estava no Museu de Arte de Goiânia observando as telas de Waldomiro de Deus. Um senhor de camisa e papete, bigode e sorriso franco, me abordou perguntando se eu havia gostado dos quadros. Não tive duvida de que se tratava do próprio Waldomiro e lhe respondi, com sinceridade, que havia achado interessanet seu jeito particular de pintar, sempre retratando questões relacionadas ao contexto popular, político e social do país.
Fomos conversando e descobri que ele tinha um apartamento na Mourato Coelho, muito perto da casa da minha tia onde eu havia residido por alguns meses antes da viagem. Acabamos ficando muito amigos e ele me convidou para o culto evangélico de seu filho que seria realizado em um hotel da cidade às 19h.
Gostei muito do culto, seu filho Edom (todos os seus filhos têm nomes hebraicos) tem uma retorica muito boa e é bastante eloquente, além do fato de pregar de forma tranquila e serena. Logo ficaria amigo da família e receberia o convite para dormir em sua casa, o qual, evidentemente, não recusei. Assim, às 23h30, Edom e eu fomos buscar as minhas coisas no hotelzinho de R$8,00. No caminho, receberia a melhor explicação do significado de Jesus para os evangélicos, melhor não só pela qualidade da exposição, mas por não haver proselitismo em seu discurso.
Nos quatro dias que fiquei em sua casa, teria a oportunidade de conhecer mais a sua história, raramente por seus próprios relatos. Seu Waldomiro possui aquela humildade característica das pessoas religiosas que, apesar de seus grandes feitos, não se vangloria e nem faz estardalhaços pela convicção de que tudo é obra de Deus, sendo ele apenas uma de suas ferramentas. Isso, é claro, trouxe-me dificuldades para saber sobre seu passado, mas graças a uma tese de mestrado em teologia, da qual não me recordo a autora (perdoem-me, ABNT e autora desconhecida), pude adentrar mais em sua vida.
Antes de começar a relatar o material que recolhi na tese, comento um fato curioso que revelou muito sobre seu passado. Estava eu apresentando meu cartão de visitas (alguns dizem que é para pretensas sogras), isto é, lavando louças após o jantar logo na primeira noite que havia chegado a casa dos de Deus, quando Seu Waldomiro me disse: "Olha! Você esta lavando as louças! Isso me lembra de quando eu cheguei na casa de um policial lá de Osasco. Eu estava jogado nas ruas do Largo da Concórdia, no Brás, quando ele me acolheu. Assim como você, eu fiz questão de lavar as louças." Era a terceira pessoa que havia morado nas ruas e dava-me abrigo.
Waldomiro de Deus nasceu no dia 12 de junho de 1944, em Itagiba, sul da Bahia. Aos 12 anos, fugiu de casa por conta do alcoolismo do pai e do desejo de tentar a vida na cidade grande. Dos 14 aos 17 morou nas ruas de Minas Gerais e São Paulo, trabalando de carregador, ajudante de padeiro e engraxate. Aos 17, no Brás, um oficial da guarda civil de Osasco, Sr. Manuel Pompeu, convidou-lhe para morar em sua casa. Passou a se dedicar à pintura, vendendo seus quadros no Viaduto do Chá.
Aos 18 anos, graças ao apoio do compositor Teodoro Nogueira e do físico e crítico de arte Mário Schenberg, destaca-se em uma exposição na Galeria Prestes Maia. Em relação a este fato, Waldomiro pensou que seus quadros haviam sido rechaçados pelos juízes, dado que imaginou estar escrito"Menção Horrorosa" ao invés de "Menção Honrosa" na estampa de um de seus quadros.
Aos 23 anos, em meio à ditadura militar, é considerado um artista plástico polêmico e rebelde pela impressa e setores mais conservadores da sociedade por conta do quadro "Nossa Senhora de Minissaia" e do fato de ter saido na R. Augusta vestido de mulher (uma aposta que fizera com a dona de uma loja de roupas). Essas atitudes lhe renderam um sequestro por parte da organização católica Tradição, Família e Propriedade que lhe deixou nu em um matagal do Morumbi.
Em sua defesa, afirma: "Tudo [as pinturas e as atitudes] dentro do espírito dos ´pimbahippies´. Era como eu chamava os pintores baianos hippies. Éramos contra o tóxico e a guerra. Trabalhávamos pela arte e não envolvíamos [sic] em política",
Aos 25 anos, acerca de sua viagem à Europa para expor seus quadros, o Notícias Populares de 22 de junho de 1969 publicava a seguinte manchete, "O pintor maldito Waldomiro de Deus vai à Europa". Aos 28, na fronteira da França com a Bélgica, é preso com Geraldo Vandré, o qual compõe a música "Nas terras do bem virá" em sua homenagem: "Waldomiro nas estrelas / Não podia se queixar / Tinha tudo que queria / Vivia tudo a pintar". Chegou a tentar o suícidio, tamanha era a vergonha daquela prisão injustificável.

Seu Waldomiro e eu.

Por volta dos 30 anos, em Jerusalém, torna-se crente devoto ao orar, "Ah Jesus, se tu existe mesmo, toca em mim um pouquinho, manda alguma coisa aí para eu crer mesmo que tu existe". Assim, aos 31, após pedir a mão de sua esposa em casamento - na época com apenas 16 anos - pintando em uma tela a frase "Você quer casar comigo?", tentou selar o matrimônio na Igreja Batista de Osasco, mas o pastor se recusou a celebrar a cerimônia por conta do vestido roxo com flores brancas da noiva, do vestido branco da dama de honra, e da capa rosa choque do noivo. No final, o casamento só ocorreu graças ao ex-prefeito de Osasco, Francisco Rossi, que realizou o casório.

Foto do casamento

Hoje, tendo sido hóspede em sua bela e enorme casa de Goiânia, vejo o quanto Seu Waldomiro é um homem de fé. Tudo que possui adveio de seus quadros: a casa de Goiânia, o apartamento de São Paulo, a faculdade de seus filhos... Trata-se de um grande pintor Naif, categoria de arte folclórica, insita, ingênua, na qual a arte está submetida apenas às leis de seu próprio criador, sem preocupação com os padrões de estética tradicionais.
Agora, o mais importante: expressar o que este homem e os dias que passei em sua casa significaram para mim. É impossível não se surpreender com sua bondade, sempre calcada na religião, aliás, tudo para ele gira em torno de suas crenças religiosas. Nos cinco dias que lá fiquei, recebi muitas orações de pessoas que nunca havia visto. Participei por quatro manhãs seguidas de uma campanha na Igreja Batista. Acordávamos as 4h30, pois as 5h iniciavam as orações na igreja, e oravamos até as 7h. Era frequente ouvir, do outro canto da igreja, alguma voz pedindo a Deus: "Proteja o Fernando durante a sua viagem." Meu primeiro contato com a igreja evangélica foi, como poderia dizer, abençoado. Nunca vou me esquecer da alegria do Seu Waldomiro ao me ver retornar na quarta-feira, depois de postergar minha partida para que pudesse participar do final da campanha de oração que terminaria no dia seguinte.

Na quinta, terminada a campanha, fui deixado por Waldemy, amigo da família que também estava hospedado na casa, em um posto de gasolina (como sempre). Graças a um chapa (pessoa que conhece bem a cidade e fica nos postos à espera de caminhoneiros que possam necessitar de seus serviços por meio da indicação do caminho, ou ainda da carga ou descarga do caminhão) consegui carona até o trevo de Formosa, alguns quilometros após Brasília.
A idéia era chegar na casa de meu primo, Mi, em Alto Paraíso de Goiás, na Chapada dos Veadeiros. Faltavam ainda uns 250km, e achei que seria difícil conseguir chegar naquele mesmo dia. Além disso, para minha sorte, encontrei numa tendinha na estrada uma hippie e um gay que estavam indo ao VIII Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, que seria realizado numa vila próxima à Alto Paraíso, Vila de São Jorge. Convidaram-me para tomar uma Skol e decidi que pelo horário, pela nova amizade e pelo Cordel do Fogo Encantado (grupo musical de Pernambuco), deixaria para ir à casa de meu primo no dia seguinte.

Mas meu primo fazia questão de que eu fosse naquele mesmo dia, ao menos pareceu. Saimos caminhando pela estrada, a hippie, o gay e o japonês. Foi só eu abrir a boca para dizer que seria muito difícil de conseguir carona em três pessoas, quando uma S10 passa a uns 130 km/h. Meu novo amigo gay começou a pular e a gritar: "Ei! Ei!", e, inacreditavelmetne, a caminhonete parou e passou a dar ré. Quando fui ver, meu primo saiu da porta traseira!!!!!!!!!!! E assim, pela primeira vez, pude dar carona a alguém e retribuir as mais de 50 caronas que havia pegado até então. Fomos discutindo sobre religião e homossexualidade até chegar em Alto Paraíso, no trevo em que ficariam os amigos que não veria mais.
Assim, naquela mesma noite, estaria novamente no conforto do lar de familiares. Por sorte, a esposa de meu primo havia ligado para minha mãe no dia anterior, perguntando se ela sabia quando chegaria. Minha mãe disse que era imprevisível, dado que eu estava viajando apenas de carona, e este foi o alerta para que meu primo reparasse mais nos acostamentos.
Nos dias que passei lá, pude curtir as cachoeiras da Chapada com as minhas primas (Demi, 10; Bia, 12; e Érica, 14 - não me matem se as idades estiverem erradas, por favor!). É incrível como as crianças crescem e perdem aquela cara-de-pau de sete, oito anos atrás. Ainda mais se você tiver um histórico de travessuras com elas... elas parecem se recordar do passado e ter vergonha de revive-lo... ah, como queria que tivessem seus 2, 4 e 6 anos novamente!!!!!!!!!!! Ao menos não passaria pelo constrangimento de afirmar na pizzaria, ao receber a conta da garçonete: "Ei, são elas que vão pagar!". Talvez, se ainda tivessem esta idade, o dinheiro ao menos me seria confiado... hhuahuahhuaah... Enfim, foi divertidíssimo...
Mi, meu primo, e as serelepes crescidas

No sábado, último dia do Encontro de São Jorge, fui lá para dar um olhada. Sem dúvida era um ponto de encontro obrigatório dos hippies e um lugar cheio de som com qualidade. Ouvi o excelente grupo Fruto do Cerrado, do interior de Goiás (me dei o luxo de comprar o cd, quem quiser, esta em casa. É só ligar e pedir para meus pais); o Congo da Irmandadne de Santa Ifigênia, Niquelândia - GO; o cortejo de Zambiapunga Nilo Peçanha - BA. Além de assistir ao filme Tapete Vermelho e a uma apresentaçaõ de um teatro de mamulengos (bonecos de pano), bem como de dançar um rasta pé.

cortejo de Zambiapunga Nilo Peçanha - BA

Em relação ao teatro de mamulengos, conheci um músico que me deu uma idéia importante. Conversando a respeito de minha viagem e da intenção de descer o Rio São Francisco, ele me disse que dois amigos seus desceram o rio em um barquinho a remo... chegaremos lá, por eqnaunto, fica o registro de quem plantou a idéia.

Despedi-me da Chapada dos Veadeiros com a música Encantos da Chapada, do grupo Fruto do Cerrado: "Vem ver, na Chapada dos Veadeiros vem / Céu estrelado e o mais lindo luar cor de prata / Só aqui é que tem...". De lá, seguiria para Brasília, somente para rever velhos amigos e dar uma passada no Memorial JK.

Grupo Fruto do Cerrado

Em Brasília, fiquei alojado na Seicho-No-Ie. Revi os amigos da última viagem que fizera para lá, quando segui a trajetória política de JK, e fiquei feliz de saber que todos se lembravam de mim (a família da Pâmela, os funcionário da Seicho-No-IE, o pessoal do Memorial JK).
Brasília encerrou minha aventura pelo Centro-Oeste. E para finalizar este post, nada melhor do que lembrar as palavras de Juscelino estampadas na placa sobre a sua efígie a frente do Palácio do Planalto: "Brasília, construída com destemor, sacrifício e determinação, assinala o certo e desejado encontro do Brasil com sua grandeza."
Pelo Centro-Oeste pude perceber o porquê de ser a região catalisadora dos fluxos migratórios. Sem dúvida a grandeza de Brasília teve a sua importância, assim como a da MMX e a da Vale, mas fiquei mais feliz de conhecer a de José, Antonio, Francisco, Waldomiro, que contribuem, a sua maneira, para o progresso do país. Obrigado por terem feito parte da viagem!

1 comment:

Anonymous said...

Que catzo é uma "planície paluda" ?