Saturday, September 13, 2008

Aquarela brasileira

Meus queridos amigos,

agradeço pela preocupação, demonstrada em muitos e-mails, com minha condição física. Espero que os próximos posts lhes transpareçam o quão tranqüila (e gorda) foi a viagem nestes últimos dias.

Em resumo, graças a amabilidade das pessoas que cruzaram o meu caminho, alimentei-me muito bem, dormi sentado pouquíssimas vezes e estive bem longe de me assemelhar aos cães que procuravam um lugar quentinho ao lado do calefator e rondavam os bancos a farejar migalhas de simpatia nas rodoviárias argentinas.

Nesta etapa da viagem, encostei meu guia da FOOTPRINT e deixei de consultar o Loonely Planet dos gringos; passei a complementar as informações da Secretaria de Turismo com as da de Assistência Social; troquei a cama pela rede e a rodoviária pelo posto de gasolina ou pelo porto; e confiei nas informações de frentistas, caminhoneiros, chapas e estivadores. Por conta de tudo isso, consegui fechar as contas em menos de R$8,00 por dia (depois de perder a camera no Paraguai, decidi que iria conter custos para comprar uma nova. Ainda que pouco tempo depois tenha adquirido uma outra de graça - vocês irão ler - julguei que por estar no meu país de origem tinha a obrigação de conseguir me virar só com este valor. Tudo isto foi possível graças as pessoas que conheci, e de maneira alguma considero minha façanha).

Assim, divido minhas "férias" em três partes:
- Pelo Centro-Oeste (MS,MT,GO,DF) - 12/07 a 06/08;
- Pelo R. São Francisco (MG, BA, PE) - 07/08 a 15/08;
- Pelo R. Amazonas e afluentes (PA, AM, RO e AC, incluindo PE, PI e MA que foram percorridos para se dar início à expedição em Belém do Pará) - 16/08 a 18/09.

No Centro-Oeste, destacam-se a beleza do Pantanal e a seqüência de boas açoes, da qual fui o maior beneficiado, oriundas de pessoas que passaram por verdadeiros perrengues, e são dignas do adjetivo corajosos. Não posso me esquecer do apoio incondicional de familiares que não via há anos e das experiências em igrejas evangélicas.

Pelo Rio São Francisco, foram engraçadas as negociações com um pescador para a compra de um barquinho à remo, além da convivência com uma senhora que diz ter 95 anos e da carona com um caminhoneiro totalmente "arrebitado". E tem também a quebra de um recorde mundial: o de tempo necessário para se receber um convite feminino para se dormir em sua casa.

Já pelo Amazonas, comprovei que a viagem me ensinou a comer tudo aquilo que está no prato e não me morde primeiro. O que me rendeu uma boa diarréia, compensada por melhores refeições em barcos nos quais trabalhei de estivador. Também pude rever um querido amigo, que me trouxe muitas alegrias e reflexões, além de participar de um encontro evangélico indígena em Itacoatiara/AM. Ah, no caminho, em São Luis do Maranhão, conheci também pessoas fantásticas que se tornariam inesquecíveis amigos.


Enfim, viajar pelo Brasil representou as férias da viagem. A diversão foi tão grande e os momentos de solidão tão poucos que fui bastante displicente em relação ao meu diário. Espero não me esquecer de nenhum detalhe, ao mesmo tempo que não quero tornar a leitura de vocês enfadonha (também para isto aumentei o número de fotos). De qualquer maneira, só sairei daqui (Rio Branco/AC) quando terminar esta tarefa e, para meu próprio bem, dada as condições do Departamento de Pando - Bolívia, acredito que será prudente gastar uns dias a mais na terra do Enéas (esperavam Chico Mendes?).

Não queria acabar com generalizações, mas sem dúvida a beleza do Brasil está, em primeiro lugar, na beleza de seu povo. Espero que se divirtam nesta viagem pela aquarela brasileira tanto quanto eu.

"Brasil, essas nossas verdes matas
Cachoeiras e cascatas
De colorido sutil
E este lindo céu azul de anil
Emoldura em aquarela o meu Brasil"

http://www.youtube.com/watch?v=u0XTCVjyzAE

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